São Paulo, quinta-feira, 21 de março de 1996
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À LA CARLOTA JOAQUINA

O venerando Banco do Brasil estaria morto se fosse uma empresa privada. Seu prejuízo no ano passado foi de R$ 4,2 bilhões e espera-se, só no primeiro semestre de 96, outro rombo de cerca de R$ 6 bilhões.
Para socorrer o banco, o governo organiza uma gigantesca operação de transfusão de recursos que, como sempre, vai redundar em custos para o Tesouro, ou seja, para os contribuintes que já financiam inúmeros rombos em troca de nada ou quase nada em serviços públicos.
O sinal que vem do governo, no caso do BB como no do Banespa, continua o mesmo: tudo o que exige medidas fortes de ruptura com um passado secular de socialização de prejuízos é adiado e contemporizado.
A injeção de recursos deve fortalecer o Banco do Brasil com R$ 8 bilhões que sairão de várias fontes. Só do Tesouro Nacional, nada mais nada menos do que R$ 5,2 bilhões.
Há de positivo, nas medidas que o governo anunciou ontem, algumas providências para criar ao menos a possibilidade de uma gestão mais transparente e menos fisiológica do Banco do Brasil. O Conselho de Administração sobe de seis para sete conselheiros -quatro do governo, dois do setor privado e um funcionário indicado por um fundo de investimento que detenha pelo menos 3% do capital do banco. Segundo o presidente do BB, Paulo Cesar Ximenes, toda concessão de créditos dependerá de quórum qualificado nesse conselho. A União perde a maioria no Conselho Fiscal.
É positiva também a decisão de a partir de agora passar a fazer reservas equivalentes a 100% dos créditos considerados duvidosos, em vez dos atuais 20%. O balanço do banco estatal ficaria assim menos fantasioso.
Mas o essencial permanece: o Tesouro (ou seja, a sociedade brasileira) bancando um prejuízo acumulado em nome de supostas prioridades sociais, regionais, setoriais, econômicas e políticas, que, em número mais que razoável, nunca passaram de formas disfarçadas de fisiologismo ou discutível bom-mocismo.
É impossível não lembrar da cena, grotesca, que no filme "Carlota Joaquina" mostra o BB sendo criado para acomodar uma situação de concubinato patrocinada pelo Imperador.

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