São Paulo, quinta-feira, 21 de março de 1996
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Fisiologia pré-datada

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - Esta coluna oferece ao leitor hoje três coisas: uma notícia, uma nova expressão do folclore brasiliense e uma curta análise.
A notícia é a seguinte: o governo de Fernando Henrique Cardoso perdeu o pudor e negociou cargos e verbas para evitar a CPI dos Bancos.
A nova expressão é "fisiologia pré-datada". FHC não pode dar cargos e verbas imediatamente. Ficaria ruim para o verniz de pureza que recobre o Planalto. Por isso, tudo é acertado para daqui a alguns dias ou semanas.
O PPB, por exemplo, já recebeu um "vale-ministério" ao portador. Poderá sacar quando julgar que a poeira da CPI dos Bancos tenha baixado.
A exceção nessa estratégia pudica foi o presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), senador Iris Rezende, que preferiu dar posse anteontem para um afilhado seu em um importante órgão do governo.
A governadora do Maranhão, Roseana Sarney, vai receber ajuda mais adiante.
É idêntico o caso de Paulo Maluf, prefeito de São Paulo. Líder máximo do PPB, Maluf costurou um acordo para ter aliviada uma dívida de R$ 3,336 bilhões da cidade que dirige.
Talvez ainda neste mês o Banco Central vá federalizar cerca de R$ 1,2 bilhão da dívida paulistana. Isto é, vai emitir títulos federais no mesmo valor. São Paulo gastará menos para rolar essa dívida e Maluf terá mais dinheiro para fazer o que desejar.
Em seguida, ainda nas próximas semanas, podem ser federalizados os R$ 2,136 bilhões da dívida pública do município de São Paulo.
Um senador que preside a CCJ, uma governadora do Estado do presidente do Senado e um prefeito da maior cidade do país. Esses são os agraciados com as benesses do Planalto até agora.
Há outros beneficiados. A análise e conclusão disso tudo são simples: para barrar a CPI dos Bancos, FHC talvez torre tanto dinheiro quanto o Banco Central vai despejar no Proer.

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