São Paulo, sexta-feira, 22 de março de 1996
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Cloro em excesso não é filtrado

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Mudanças na concentração de produtos usados no tratamento da água podem provocar outras tragédias como a de Caruaru. Sérgio Antonio Draibe, da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), diz que os equipamentos de hemodiálise estão dimensionados para uma determinada concentração e volume de água.
"Se há um aumento grande de cloro ou sulfato de alumínio na água da rede pública, o equipamento de filtragem da clínica não tem condições de filtrar", diz Draibe. Foi isso, em princípio, o que ocorreu em Caruaru, onde a água utilizada teria cloro em excesso.
A intoxicação causou a hepatite aguda -necrose celular hepática-, levando os pacientes à morte.
Em 1972 e 1973 foram registradas intoxicações por sulfato de alumínio na água de dialisadores em Denver, no Colorado (EUA) e Newcastle, na Inglaterra. Segundo Draibe, dezenas de pessoas foram intoxicadas, mas ninguém morreu.
Dez anos atrás, intoxicações por alumínio também ocorreram em Sorocaba (SP). Esse tipo de intoxicação provoca danos neurológicos e doenças ósseas reversíveis.
Segundo a SBN, as clínicas de diálise não podem ser responsabilizadas sozinhas pela qualidade da água. "Uma análise para detectar produtos estranhos ou em excesso na água demora uma semana", diz Draibe. As máquinas também não possuem dispositivos capazes de detectar produtos em excesso ou tóxicos. "Por isso, trabalhamos com as informações das empresas fornecedoras de água."
Segundo a Sabesp -responsável pela distribuição de água em São Paulo-, a empresa adiciona 0,5 miligrama de cloro em cada litro de água, seguindo recomendações do Ministério da Saúde e do governo do Estado.
"Quando falta água em alguma clínica ou hospital, o abastecimento é feito por caminhões-pipa da própria empresa", diz Márcio Riscala, assessor da Sabesp.
No caso de a clínica comprar água de empresas particulares, a responsabilidade seria desse fornecedor e da Vigilância Sanitária.
Para o paciente de diálise, a presença de produtos na água tem efeito muito maior que para a pessoa que bebe essa mesma água. É que, enquanto uma pessoa toma cerca de dois litros de água, o sangue do paciente em diálise é lavado em 120 litros. "O alumínio ou cloro em excesso é aumentado em 60 vezes", diz Draibe.

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