São Paulo, sexta-feira, 22 de março de 1996 |
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A VIDA DOS BRASILEIROS Pesquisa de amostra por domicílio de 93, divulgada pelo IBGE, mostra que o país ainda está longe de desmerecer o atributo "terra de contrastes", cunhado há 39 anos pelo sociólogo francês Roger Bastide. O levantamento é um amálgama de dados positivos e negativos. Ao mesmo tempo que registra, de 83 a 93, ligeiro aumento na taxa de escolarização de crianças entre 7 e 14 anos, o número dos menores entre 10 e 14 que já estavam no mercado de trabalho chegou a quase 3,5 milhões, apesar de dispositivo constitucional que proíbe o trabalho dessas crianças. Embora o trabalho feminino tenha continuado em franca expansão no período, as mulheres ainda ganhavam muito menos que os homens. A despeito de 75% dos domicílios terem água encanada e pelo menos um aparelho de televisão, somente 58% deles contavam com o serviço de esgoto (tratado ou não) e 69% dispunham de coleta de lixo. No mesmo período, os dados relativos ao perfil do desemprego e da informalidade no mercado de trabalho já eram inquietantes. Registrou-se entre 90 e 93 um aumento no desemprego de 3,7% para 6,8%. Ao mesmo tempo, houve uma queda de 58% para 50% no número de trabalhadores com carteira assinada, e um aumento de 35% para 38,6% no percentual dos que ingressaram no universo informal. Esboçava-se então um quadro que só vem dramaticamente assumindo cores ainda mais fortes. Entre 83 e 93, a concentração de renda mostrava uma marcante alta, sobretudo no ano anterior à implantação do Plano Real. A participação dos 10% mais pobres no total de rendimentos pessoais caiu de 0,9% para 0,7%, e a participação dos 10% mais ricos subiu de 48,1% para 49,8%. Longe de gerar pessimismo quanto à inadiável tarefa de resgate da dívida social no Brasil, a pesquisa do IBGE indica que o desafio de oferecer qualidade de vida aos brasileiros possui ainda dimensões extraordinárias. Próximo Texto: SABOR AMARGO Índice |
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