São Paulo, sábado, 23 de março de 1996
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Número de doadores de sangue cai 35%

DA REPORTAGEM LOCAL

O número de doadores de sangue caiu ontem entre 30% e 35% nos principais hemocentros do país. Só a Fundação Pró-Sangue Hemocentro de São Paulo -o maior banco de sangue da América Latina- perdeu mais de 300 doadores.
Diretores de hemocentros atribuem a fuga dos doadores a informações publicadas pelos meios de comunicação sobre o fechamento de bancos de sangue no país.
Sete foram interditados como resultado da inspeção que o Ministério da Saúde começou a realizar no último dia 2 de fevereiro em 54 bancos de sangue.
Foram interditados até agora os bancos Santa Casa, São Lucas e Vera Cruz (em Belo Horizonte), Hemoron (em Rondônia), Juazeiro (na cidade de Juazeiro) e Santa Catarina e Correas (Rio de Janeiro).
A razão para as interdições seria a existência de problemas na coleta, no processamento e no controle de qualidade do sangue.
Dalton Chamone, presidente da Fundação Pró-Sangue Hemocentro, afirma que apenas uma minoria dos bancos de sangue age de forma irresponsável.
"Nós do Hemocentro somos referência em sangue para toda a América Latina e acabamos confundidos com bancos de sangue irresponsáveis", disse . Chamone também responde pela Coordenadoria de Sangue e Hemoderivados do Ministério da Saúde e foi eleito representante das Américas para a qualidade do sangue na Organização Mundial da Saúde.
Segundo Chamone, foi o próprio Hemocentro que testou as bolsas plásticas fabricadas no país e enviadas pelo Ministério da Saúde. De três marcas nacionais, duas foram descartadas. O Hemocentro utiliza bolsas americanas.
Segundo os médicos, só em casos raríssimos a qualidade da bolsa traz riscos para o doador. O problema estaria na armazenagem desse sangue, que se deteriora mais rapidamente. Ontem, o próprio Chamone doou sangue para provar que não existem riscos.
A informação, no entanto, assustou os doadores. Segundo Chamone, várias empresas onde seriam feitas coletas em unidades móveis ligaram ontem de manhã cancelando as doações.
No Disque-Sangue do Hemocentro, das cerca de 50 ligações recebidas ontem, mais de 90% perguntavam se a fundação usava bolsas contaminadas.
"Funcionários do próprio Hospital das Clínicas vieram me dizer que não doarão mais sangue", disse Pedro Dorlhiac, diretor-científico do Hemocentro.
"O problema se agrava porque estamos tendo que socorrer Rondônia, onde tivemos de fechar o hemocentro por falhas na coleta e controle de qualidade. Um acidente com muitas vítimas em São Paulo pode pegar a cidade sem sangue suficiente."
O Hemocentro recebe entre 18 mil e 20 mil doações por mês. Isso significa a metade do abastecimento e da coleta de sangue na rede pública do Estado e um terço de todo o país.

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