São Paulo, sábado, 23 de março de 1996
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Para BID, déficit público ameaça Real

DENISE CHRISPIM MARIN
DE BUENOS AIRES

O Informe Anual de 1995 do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) critica o desequilíbrio fiscal do Brasil e aponta o país como um dos que optaram por uma política de juros altos.
O relatório, um calhamaço de 178 páginas que traz um panorama econômico da América Latina, acentua que o Brasil deverá "dar uma base mais duradoura e permanente ao reordenamento um tanto precário de suas finanças públicas".
Mas ressalta que a tarefa depende da reforma constitucional.
O texto também inclui o Brasil entre os países que optaram por uma política monetária restritiva para reduzir a inflação -ou seja, elevação das taxas de juros.
Outro problema brasileiro apontado no documento foi o incremento "drástico" no déficit em conta corrente, de US$ 1,5 bilhão em 1994 para US$ 18 bilhões em 1995.
No total, entretanto, o fluxo de capitais a América Latina superou o déficit em conta corrente. Com isso, os países agregaram, em conjunto, US$ 16 bilhões a suas reservas internacionais.
No caso do Brasil, assegura o texto, houve acúmulo de US$ 13 bilhões. Já o México teve de receber US$ 6,5 bilhões de ajuda internacional para restabelecer suas reservas.
Crise mexicana
A América Latina e o Caribe não passaram pela prova do BID em 1995. Embora a maioria dos países tenha mantido controle inflacionário, não conseguiu escapar dos efeitos da crise mexicana e melhorar o desempenho de suas economias.
"A crise deixou marcas profundas na região", resume o relatório.
O documento aponta, entretanto, que no decorrer do ano passado a crise que afetava toda a região acabou circunscrita apenas ao México e à Argentina -os países que mais sucumbiram ao "efeito tequila".
Os dados sobre crescimento econômico da América Latina e Caribe ilustram esse fato. A taxa caiu de 5%, em 1994, para apenas 0,6% no ano passado. Excluindo os números do México e da Argentina, o desempenho da região torna-se mais expressivo, e a diferença, menor. As taxas seriam de 4,9%, em 1994, e de 4,2% um ano depois.
Outros países
Peru e Chile foram os países que mais cresceram em 1995, com taxas equivalentes a 7%. Já o México mostrou retração econômica de 7%, e a Argentina, de 2,5%.
Os cálculos do BID indicam que a região teve um aumento de investimentos de 0,3% -uma variação considerada pequena e que, pela primeira vez desde 1990, se manteve abaixo do incremento do PIB (Produto Interno Bruto). A escala de países que mais receberam investimentos tem o Brasil no quarto lugar, com aumento de 20%.
Os principais alvos foram o Haiti, com um incremento surpreendente da ordem de 525%, a Colômbia, com 22%, e o Peru, no mesmo degrau que Brasil.
México, Argentina, Venezuela, Belize e Uruguai formam a escala dos que apresentaram fuga dos investimentos.
No ano passado, o BID calcula que entrou US$ 1 bilhão a mais no mercado financeiro da América Latina e Caribe, em comparação com 1994. No total, foram US$ 45 bilhões.
Mais uma vez, México e Argentina foram os principais prejudicados. Juntos, receberam USŸ 6 bilhões, enquanto, em 1993, acumularam US$ 42 bilhões.
O restante da região dividiu um bolo de US$ 39 bilhões, montante que teve como alvos preferenciais Brasil, Colômbia e Bahamas.
O documento também acentua que, em 19 dos 24 países consultados, as exportações cresceram mais rapidamente do que o PIB. A preços constantes, as vendas ao exterior subiram 7,5% em 1995.
A grande exceção neste panorama foi o Brasil, com retração de 8%. Os técnicos do BID apontam como causas a valorização do câmbio real e o aumento dos investimentos e do consumo interno.

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