São Paulo, domingo, 24 de março de 1996 |
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Urros no teatro de Lefort
MARCELO REZENDE em ParisDuas vezes por mês, o "L'Odéon-Théâtre de L'Europe" toma o lugar dos cafés e realiza o que já ganhou o apelido dos parisienses de "filosofia no teatro". No lugar de uma figura pública como Sautet -que não possui a aura acadêmica-, o Odéon recebe membros das universidades francesas para tentar elucidar, para um público de estudantes e interessados, os grandes problemas políticos e éticos do mundo hoje. Ou, ainda, a obra de um filósofo. No dia 12 de fevereiro o pensador Claude Lefort, em um dos encontros, acabou sendo vítima de dois conceitos caros aos intelectuais da França: a intervenção e o engajamento. Enquanto se preparava para sua palestra, um grupo de jovens, das galerias do Odéon, o atacava com panfletos e urros, o qualificando de um "gauche-caviar", um homem de esquerda que se nega à crítica combativa e à ação, por sua posição -supostamente nula, ou até mesmo favorável- à política social de Jacques Chirac. Mas, enquanto Lefort se defende com sorrisos dos ataques, todos os novos nomes da academia parecem se debruçar cada vez mais sobre a moral, a política e a ética. A pergunta que Lefort, Sautet, ou mesmo Derrida não conseguem responder é que tipo de consequência essa produção -e popularização- trará para a própria filosofia. Ou ao cotidiano do cozinheiro indiano que vive, de forma precária, na rue Saint Jacques, bem ao lado do panteão da Sorbonne onde, por coincidência, estão sepultados Rousseau e Voltaire. (MR) Onde: Odéon-Théâtre de L'Europe (place Paul Claudel, 1, Paris); grátis Texto Anterior: Os novos rivais de Freud Próximo Texto: O fulgor teatral de Ziembinski Índice |
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