São Paulo, segunda-feira, 25 de março de 1996
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'Estrangeiro' comemora a indicação

Ator disputa hoje o Oscar

LARISSA PURVINNI
DA REPORTAGEM LOCAL

Um "estrangeiro" vai reforçar a torcida brasileira na festa do Oscar hoje à noite, em Los Angeles.
Bruno Campos, 22, é quase tão "gringo" quanto seu personagem em "O Quatrilho", o imigrante italiano Massimo Boschini.
Ele nasceu no Rio de Janeiro, mas vive fora do Brasil desde que tinha cinco anos.
O trabalho do pai como gerente do Banco do Brasil levou-o a conhecer 20 países, entre eles o Canadá, EUA e até Bahrein, no Golfo Pérsico.
"Minha personalidade sempre foi um 'X'. Isso acabou fazendo com que eu me sentisse como um estrangeiro, um estranho no ninho, como o personagem", diz.
Quando recebeu o convite para participar do filme, em uma festa quando estava de férias no Rio, Bruno começou a pesquisar sobre cinema brasileiro e teve de fazer um curso de português durante seis meses.
"Não queria pagar o mico de me aliar a monumentos do cinema brasileiro sendo um analfabeto."
Para evitar problemas, Bruno carregava seu dicionário inglês-português para as filmagens de "O Quatrilho."
Além das aulas de português, o ator recebeu lições para falar com sotaque italiano. "Fomos para o Rio Grande do Sul e passamos duas semanas com um maestro para pegar o sotaque. Também recebemos fitas gravadas com a voz de colonos de um campo de vinho."
Estudos
Bruno estudou em Interlochen Art Academy, nos EUA, e aos 16 já tinha lido 22 peças de Shakespeare.
"Quando eu tinha 14 anos, meu pai queria voltar, mas eu não falava português e decidi ficar nos EUA para terminar os estudos."
Formou-se em artes dramáticas pela Northwestern University (EUA), escola em que estudaram atores como Charlton Heston e Warren Beatty.
Ele próprio admite que, nessa época, seu conhecimento a respeito do Brasil não ia muito além de samba, Carnaval, Tom Jobim, Sônia Braga e Carmem Miranda.
Depois do fim das filmagens de "O Quatrilho", Bruno voltou para os EUA para se formar.
Participou de uma montagem da peça "Tudo Fica Bem Quando Acaba Bem", de Shakespeare, que lhe valeu elogios do jornal "The New York Times" e uma ligação da agência que representa a atriz Whoopi Goldberg.
No Brasil, Bruno diz ter sido procurado pela Manchete, SBT e Globo. "Ainda não aceitei, porque não quero assumir um compromisso. Ainda não me decidi se volto para os EUA ou fico no Brasil. Tenho laços lá e aqui."
Insônia
Bruno diz ter sido o último a saber da indicação de "O Quatrilho" para concorrer ao Oscar na categoria de melhor filme estrangeiro.
"No dia em que saiu a indicação, estava viajando. Quando cheguei à casa do meu tio em Natal ele disse: 'Você deve estar morto de sono, mas acho que não vai dormir nada. Seu filme vai concorrer ao Oscar'. Passei cinco noites ligadão."
O ator acha que o filme tem grandes chances de levar a estatueta. "A história é a cara da personalidade norte-americana. É a vitória do imigrante e os EUA sabem o que é isso."
Outro ponto que pode agradar aos americanos, na opinião do ator, é tom feminista da história.
Bruno não esconde o nervosismo com a indicação. "Estou esperando para ter um infarto lá mesmo. É muito surrealista."
Se a vitória não vier, Bruno diz não se importar. Segundo ele, já contente com a indicação para o prêmio. "Já ganhamos. Estar lá já é vencer."

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