São Paulo, sexta-feira, 29 de março de 1996
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Sérgio Motta afirma que FHC tem "o saco preto"

MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Diante de uma platéia de deputados tucanos, o ministro Sérgio Motta (Comunicações) lançou ontem um inédito elogio à coragem do presidente Fernando Henrique Cardoso e a seu desempenho: "O presidente tem o saco preto".
O ministro das Comunicações alfinetou ainda o aliado PFL ao dizer que o verdadeiro eixo de poder no governo é o PSDB.
Os tucanos se reuniram para comemorar a filiação ao partido do deputado Nelson Marchezan (RS) -ex-líder dos governos Geisel e Figueiredo e ex-presidente da Câmara dos Deputados (de 1981 a 83).
Com a entrada de Marchezan, a bancada do PSDB passou a ter 85 deputados.
"Saco Preto"
Motta adaptou ao vocabulário tucano a valentia que o ex-presidente Fernando Collor alardeava, quando, irritado com a oposição, disse que tinha "aquilo roxo".
"Essa é a versão paulista do saco roxo do Collor", disse a deputada Zulaiê Cobra (PSDB-SP), à saída do café da manhã tucano.
Motta não sabia que havia jornalistas presentes. No fim da tarde, o líder do PSDB na Câmara, José Aníbal (SP), disse aos repórteres: "O ministro pediu para vocês esquecerem isso". Segundo Motta, a principal prova de "coragem" de FHC foi a decisão de declarar indisponíveis os bens de donos de bancos que sofrem intervenção.
Referia-se ao fato de a medida ter atingido Ana Lúcia, nora do presidente e uma das herdeiras do Banco Nacional. Filha de Magalhães Pinto, patriarca do banco -já morto-, ela é casada com Paulo Henrique Cardoso, filho de FHC.
"Tenho orgulho porque o Fernando Henrique foi o único presidente, nos últimos 50 anos, que teve a coragem de colocar em indisponibilidade os bens de seus netos", afirmou o ministro.
"Desmoralização"
O ministro das Comunicações também estimulou os tucanos a defender o governo em momentos de crise, a aprovar as reformas na Constituição e a faturar os resultados do Plano Real nas eleições municipais de outubro.
No discurso, Motta afirmou que o governo enfrenta uma "tentativa de desmoralização", que ele atribuiu à reação das "velhas elites do país" ao projeto do PSDB.
"A oposição está desesperada", avaliou o ministro, um dos formuladores de uma estratégia ofensiva do PSDB nas eleições municipais.
O pleito é tido como fundamental para o projeto de poder de longo prazo dos tucanos porque fixará as bases políticas para as eleições de 1998. De acordo com os cálculos do ministro, o PSDB passará a ter, depois das eleições municipais, a mais forte estrutura partidária do país. "O projeto de vitória eleitoral tem de ter grandeza", disse.
Otimismo
Motta traçou cenários otimistas para os tucanos. "Não temos nenhuma perspectiva de crise até a eleição: o cenário é de absoluta tranquilidade", previu. O ministro citou exaustivamente números sobre o crescimento de consumo de proteínas (30%), geladeiras (27%) e microondas (35%).
Falou também do crescimento da popularidade do presidente nas faixas de renda mais baixa.
Para reforçar o "cenário extremamente favorável", Motta anunciou, para breve, a retomada de investimentos públicos em infra-estrutura e na área social.
"O Fernando Henrique não quer ser só o presidente da estabilização, mas o presidente da construção de uma nova sociedade: agora é a hora da transição", disse.
PSDB X PFL
Em outro momento do discurso, o ministro tratou de tentar convencer os tucanos de que o partido -e não o PFL- detém o controle do governo.
"Foi difícil fazer a coligação, montar este governo", afirmou o ministro, emendando: "O eixo (do governo) é tucano, profissional. É ilusão dizer outra coisa".

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