São Paulo, sexta-feira, 29 de março de 1996
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A poluição dos ônibus em SP

MAURÍCIO L. DA CUNHA

Grandes, visíveis, evidentes, ocupando o espaço de 30 automóveis que levassem dois passageiros cada um, os ônibus de São Paulo não transportam apenas passageiros, mas carregam a fama de serem os principais agentes poluidores da cidade, principalmente no inverno, quando, segundo a terminologia ambiental, é mais difícil a dispersão de poluentes.
Nada mais equivocado. Os ônibus a diesel poluem bem menos do que os 30 automóveis que poderiam substituir, e a tendência, com a melhoria tecnológica dos motores, mudanças no refino do petróleo e o que as próprias empresas vêm fazendo em suas garagens, é reduzir ainda mais a atual participação de 2,27% de material particulado expelido pelos ônibus nessa nuvem que cobre São Paulo, em dias incertos, depois de maio e antes de setembro.
No entanto, para as quase 50 empresas de ônibus da cidade, cuja operação é gerenciada pela São Paulo Transporte, a questão ambiental escapa ao efeito cíclico do inverno que, assim como é certo que as estações do ano se sucedem, da mesma forma o tema volta à discussão -e sempre- às vésperas do outono tropical.
O Transurb se antecipou ao ciclo e às discussões. No começo do ano passado, ainda em pleno verão, o Transurb, na condição de sindicato que congrega as empresas de ônibus da capital, sugeriu uma parceria com a Cetesb, por meio da qual propunha um convênio de assistência tecnológica -assinado meses depois- para estabelecer um regime de auto-fiscalização. Técnicos da Cetesb fizeram palestras para os encarregados das 77 garagens espalhadas pela cidade.
É dessas garagens, localizadas no município de São Paulo, que todos os dias saem quase 11.000 ônibus que o ano passado percorreram pouco mais de 777 milhões de quilômetros. Esses ônibus são parte (2,75%) de um universo de cerca de 400.000 veículos movidos a óleo diesel que se movimentam pela cidade, todos os dias.
Tomando como base dados da Cetesb, esses ônibus emitiram 629 toneladas de material particulado, sendo responsáveis, portanto, por apenas 2,27% do total expelido em 1995.
Estima-se que o universo de material particulado expelido pelos veículos a diesel na cidade de São Paulo seja de 27.630 toneladas. Não é pouco, mas é bem menos, muito menos do que a fama adquirida pelo fato de serem grandes, evidentes e vistosos, e, evidentemente, menor que o estigma que muitos querem lhes pespegar pelo fato de -felizmente- a todo momento passarem diante dos nossos olhos.

Maurício Lourenço da Cunha, 34, engenheiro, é presidente do Transurb (Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros de São Paulo).

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