São Paulo, sábado, 30 de março de 1996
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Desafio do Real é retomar crescimento

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

Não há perigo de volta da inflação no Brasil, pelo menos nos próximos três anos. O principal problema hoje é outro: como retomar o crescimento sustentado.
Essa foi uma conclusão comum dos quatro economistas de prestígio que participaram ontem, em São Paulo, de seminário promovido pela InterNews.
Foram economistas de tendências diversas: os ex-ministros e deputados federais Delfim Netto (PPB-SP) e Roberto Campos (PPB-RJ), o também ex-ministro Mailson da Nóbrega, hoje vice-presidente do Banco BMC, e o professor Eduardo Giannetti da Fonseca.
Todos concordaram que a desmontagem dos mecanismos de indexação, que perpetuam a inflação, é um ganho duradouro do Plano Real.
Para Mailson, houve uma mudança cultural. "Eliminou-se a cretinice de que o país precisa de inflação para crescer", disse ele.
Divergências
Para Delfim, "não se volta mais ao passado, não há risco de desestabilização da moeda".
O desafio hoje, arrematou Fonseca, é retomar o crescimento sem comprometer o ambiente de inflação baixa.
E neste ponto, as condições da retomada, as opiniões dos quatro economistas já não são comuns.
Mais propriamente, há um acordo quanto às bases do crescimento: reformas, ajuste das contas do setor público, privatizações e abertura da economia.
Mas há divergência quanto às possibilidades e à velocidade de realização dessas condições.
Pessimista
Delfim Netto é claramente pessimista. Ele disse que as reformas constitucionais estão atrasadas, são precárias e, de certo modo, insinceras.
Além disso, Delfim entende que a política cambial, com o real sobrevalorizado, é um "constrangimento insuperável".
Já Mailson da Nóbrega entra na categoria dos otimistas. Não que preveja um forte crescimento para já. Mas ele entende que se vai fazer o possível.
"O crescimento depende das reformas, que virão com o tempo, lentamente, mas virão", afirmou.
Meio termo
Para Giannetti da Fonseca, o cenário mais provável de médio prazo fica todo a meio-caminho.
Vai haver "algum ajuste fiscal, alguma queda de juros, menos gasto com funcionalismo e previdência, e mais exportação".
Tudo sem brilhantismo. No final, dá um cenário de inflação baixa, que considera essencial, com crescimento em torno de 4% nos dois últimos anos do governo FHC.
Privatização
Se houve uma unanimidade absoluta entre os quatro economistas foi na constatação de que o processo de privatização é lento.
Roberto Campos manifestou o maior desânimo. Contou que fizeram o maior esforço no Câmara dos Deputados para derrubar o monopólio do petróleo, para o presidente FHC estragar tudo.
Referia-se à carta que FHC enviou ao senador Ronaldo Cunha Lima, relator da emenda no Senado, dizendo que a "privatização do petróleo era de mentirinha".

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