São Paulo, sábado, 30 de março de 1996
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Presos fazem barricada com botijão de gás

WILLIAM FRANÇA
ENVIADO ESPECIAL A APARECIDA DE GOIÂNIA (GO)

A rebelião no Cepaigo (Centro Penitenciário Agroindustrial do Estado de Goiás) completou às 21h de ontem 34 horas. Os presos -liderados por Leonardo Pareja, 22- mantêm 26 reféns sob a ameaça de explosão de botijões de gás.
Pareja, conhecido por sua fuga no ano passado (leia ao lado), foi indicado para interlocutor dos presos pelo refém e desembargador Homero Sabino, 65, presidente do Tribunal de Justiça de Goiás.
O motim começou na última quinta. Os presos de alta periculosidade que ocupavam o pavilhão B do presídio detiveram cerca de 40 reféns, entre eles a cúpula do Judiciário e da Secretaria da Segurança.
Os reféns estariam ocupando o pavilhão B. Segundo entrevistas deles mesmos -em celulares controlados pelos detentos-, estão sendo mantidos com pelo menos dez detentos e com botijões.
Paulo Camargo, diretor do Departamento Penitenciário Nacional, do Ministério da Justiça, chegou ao Cepaigo às 16h30, por ordem do ministro Nelson Jobim -que está na Europa. A ordem era "acompanhar de perto" as ações.
Às 8h30, fotógrafos flagram a saída de uma pessoa, enrolada em colchonetes. A polícia nega que tenha sido o corpo de um detento morto ou ferido, mas, até o início da noite, não deu explicações.
Por volta das 10h, a polícia iniciou a transferência dos presos que não aderiram à rebelião para o presídio feminino, em frente ao Cepaigo. Até as 17h, cerca de 450 dos 780 detentos foram transferidos.
Às 17h30, a advogada Maria Helena Pinheiro, da assessoria jurídica do Cepaigo, foi liberada, após ser trocada por quatro caixas de água mineral. Vinte minutos depois, deixou o presídio com colete e boné da Polícia Civil. Até o início da noite a polícia não dava sinais de que invadiria o presídio.
Celular
Os detentos têm quatro aparelhos, cedidos pelos mediadores. Há um esquema montado para que não faltem baterias. Pareja ligou ontem para todas as emissoras goianas e concedeu entrevistas.
Os reféns também usaram celulares para falar com suas famílias e com a imprensa. Todos confirmaram que eram bem-tratados.
Em entrevista a emissoras de TV ontem à noite, Pareja confirmou as exigências para a fuga: dois carros-fortes, seis Omegas, armas e munição. Ele afirmou que os presos levariam um refém em cada carrro. Pareja diz que não quer fugir. Segundo ele, a rebelião é política e ele é apenas um porta-voz.
O governador Maguito Vilela disse, em resposta, que não libertará presos de alta periculosidade.
Veja a lista de reféns preparada pelo centro penitenciário: Homero Sabino de Freitas, 66 (desembargador, presidente do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás), Antônio Lorenzo Filho, 56 (secretário de Segurança do Estado de Goiás), Nicola Limonge Filho, 56 (coronel, diretor do presídio Cepaigo), Gilberto Marques Filho, 43 (diretor do Fórum do Tribunal de Justiça), Avelirdes Pinheiro de Lemos, 50 (juíza), Fábio Cristovam de Faria, 34 (juiz), Maria Fortunato Ricardo Melo, 45 (juíza), Maria das Graças Carneiro, 41 (juíza), Maguiar Cândido de Oliveira, 35 (motorista), Gilmar Assis de Oliveira (diretor administrativo do presídio Cepaigo), Alzira Jayme de Souza, 45 (chefe de gabinete do Fórum), Natanael de Lima Lacerda, 35 (advogado do preso Leonardo Pareja), Aníbal Silva, 52 (assessor de imprensa da Secretaria de Segurança), Estevam Bellas Almas, 36 (motorista do presidente do Tribunal), Jânio Pereira de Alcântara, 45, Antônio Djalma Rios, 43 (major PM), Márcio Rodrigues de Araújo (motorista), Roosevelt Monteiro de Oliveira, 30, Zacarias Coelho, 45 (juiz), Aluísio Ataíde de Souza, 57 (juiz), Haroldo Caetano da Silva, 28, promotor, Viana, 26 (soldado PM), Aldo Guilherme Sabino de Freitas, 25, Juarez Francisco de Albuquerque, 45 (tenente-coronel PM), Leonardo Pereira Alves (funcionário especial) e Orlando Batista de Moura, 43 (subtentente PM).

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