São Paulo, sábado, 30 de março de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O gingado brasileiro é sucesso nos EUA

EVA JOORY
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de 20 anos fora do Brasil, a top model paulistana Dalma Callado está de volta. Nada definitivo. Quer curtir a família e seu primeiro filho, Giorgio, de 18 meses.
Quando saiu do Brasil e foi para Paris com 19 anos, Dalma tinha U$ 500 e uma passagem de volta. Foi tentar a sorte como modelo e nunca mais voltou. Só de férias.
Depois de uma ano em Paris fazendo editoriais, recebeu uma proposta para fazer desfiles, pela primeira vez, em Milão. À convite de Eileen Ford, diretora da agência Ford, Dalma foi para Nova York e chamou a atenção dos estilistas.
Era exótica, diziam, rótulo dado antes dela às modelos louras ou negras. Dalma desfilou para nomes como Valentino, Saint Laurent, Armani, Donna Karan, Ferré e Givenchy, entre outros. Este último, se revelou seu maior admirador.
Dizia que Dalma flutuava na passarela, tinha um gingado especial. O maior elogio veio depois. A modelo ganhava as páginas do conceituado jornal, "The New York Times": "A moda antes de Dalma e depois de Dalma", dizia a manchete: "Foi o máximo do elogio, conta, entre um cigarro e outro, em entrevista exclusiva à Folha.
Há cinco anos, Dalma abandonou as passarelas, por vontade própria: "Tive vontade de viver, de ser mulher". Aos 40 anos, 1,77m e 51 kilos, Dalma está feliz. "Nunca senti saudades do Brasil, não sinto saudades de lugares. Sou independente. Hoje moro em Roma com meu marido Giovanni. Mas quando a gente tem filho, sente necessidade de ficar junto à família". Leia a seguir trechos da entrevista.
*
Folha - Depois de tanto tempo, como você vê a moda brasileira?
Dalma Callado - Vejo que as informações chegam mais rápido. O maior problema nas roupas é a técnica, o acabamento. O outro é o preço, que alto demais. Mas não quero falar muito, para não parecer que estou ditando regras só porque moro fora.
Folha - Qual é o seu estilista favorito?
Dalma - Eu gosto da mistura, tenho roupas de todas as décadas, o que hoje é fundamental, já que a moda muda tanto Gosto do Armani, Donna Karan, Vivienne Westwood. Gosto dos blazers do Yves Saint Laurent. Mas se é para falar de gênio, esse rótulo cabe a Karl Lagerfeld, que está sempre de olho na moda jovem, a moda de rua. A realidade dele não está distante como a da maioria dos estilistas.
Folha - E modelo? Você tem favoritas?
Dalma - Lauren Hutton, que sempre foi a mais moderna. Das novas, acho Claudia Schiffer profissional e Christy Turlington, linda. Gosto de Yasmeen Gauri, Jasmine LeBon. Já Naomi Campbell e Linda Evangelista são antipáticas.
Hoje as modelos são competitivas, no meu tempo havia mais amizade. Acho que é devido ao imenso hype em torno delas. Elas hoje representam uma imagem mais forte do que a da própria roupa. Os estilistas dependem delas. As modelos hoje substituem as estrelas de cinema de décadas passadas.
Folha - Já brigou com algum estilista? Você é difícil?
Dalma - Sim. Exijo respeito. Briguei com Geoffrey Beene porque ele gritou comigo e abandonei o desfile momentos antes de começar. Antes de tudo sou profissional, quero fazer tudo certo. Briguei com Halston também porque recusei seu convite para jantar. Ele ficou bravo e partimos para a briga.
Folha - Como você vê a rivalidade da moda americana e européia?
Dalma - Acho que quem ganha nesta briga é a moda européia. Eles têm a técnica, em termo de acabamento e qualidade, são profissionais. Na América, ganha mais o marketing que eles sabem fazer como nunca, mas não são acadêmicos.
Folha - Acha que teria o mesmo sucesso aqui que teve lá fora?
Dalma - Nunca. Jamais conseguiria fazer o brasileiro sonhar. Fui bastante privilegiada, estava no lugar certo na hora certa. Mas não me considero bonita.

Texto Anterior: CLIPE
Próximo Texto: Moda de inverno da G fica elegante
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.