São Paulo, domingo, 31 de março de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

A maioria não é mais silenciosa

PAULO MALUF

Um pesadelo ronda hoje o Brasil -o pesadelo do desemprego. O Plano Real trouxe a desejada e imprescindível estabilidade da moeda, base do Estado organizado, mas a retomada do desenvolvimento está travada. O sucesso do Plano Real parece não ter criado as condições políticas necessárias à ampliação do mercado de trabalho.
O desemprego, hoje evidente nas ruas das grandes cidades, destrói a esperança e reduz a níveis dramáticos a auto-estima dos brasileiros. Uma consequência perversa, pois a população paga impostos pesados, trabalha com afinco e acaba desesperançada pela atuação pífia de autoridades sem experiência.
A estagnação econômica não é um acontecimento fortuito. O pesado fardo de sofrimento e insegurança imposto ao povo brasileiro não nasceu das artimanhas do acaso. Não. Uma conjunção de fatores inexplicavelmente fora do controle das autoridades federais é diretamente responsável pelos altos e inaceitáveis índices de desemprego.
Entre eles, a pesada carga tributária carregada pela classe média; os encargos fixados para o empresariado, que inibem a iniciativa e impedem os investimentos no parque industrial; os juros extorsivos, alavancados pelo Banco Central; os lucros da especulação financeira, que não gera empregos e contribui para a alta dos custos.
E mais: os preços abusivos e descontrolados; os rombos nas instituições financeiras bancados pelo Estado; os salários nababescos desfrutados por burocratas oficiais à custa do contribuinte; as práticas cartoriais, hoje felizmente amenizadas; o desvio de verbas governamentais de suas finalidades sociais; a incompetência e o descaso na administração da coisa pública.
A ampliação do mercado de trabalho deverá ser efetivada por meio de programas de sustentação do produtor rural, de apoio ao cooperativismo, de assentamento agrário, de medidas que atraiam o capital para a agricultura, de auxílio às pequenas cidades, de incentivo à formação de pequenas e médias indústrias, de atração do capital estrangeiro produtivo, de fortalecimento das indústrias com bom nível de competição no mercado internacional, de desenvolvimento da agroindústria.
Sabemos também que a geração de empregos, isoladamente, não é suficiente para trazer a justiça social.
O estabelecimento de critérios justos de distribuição de renda, especialmente por intermédio de uma política salarial voltada para a promoção do trabalho, é uma tarefa de responsabilidade de todos, em conjunto com as forças políticas da sociedade. Para tanto é preciso decisão, rigor e coragem para corrigir desvios de rota. No Brasil de hoje não há lugar para indecisões.

Texto Anterior: Bancos e bancos...
Próximo Texto: Em defesa da maioria
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.