São Paulo, segunda-feira, 1 de abril de 1996
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Economistas contestam Dornbusch

DA REPORTAGEM LOCAL

Economistas e empresários ouvidos pela Folha não acreditam que o Brasil deva afrouxar o combate à inflação para obter taxas de crescimento maiores do que as atuais.
A proposta é defendida pelo economista alemão Rudiger Dornbusch. Em entrevista publicada ontem na Folha, ele afirmou que a preocupação exclusiva com uma inflação próxima a zero não traz vantagens ao país. Ele defende a convivência com taxas de inflação maiores para permitir uma aceleração da taxa de crescimento.
Hiperinflação
Para o economista e professor da USP Eduardo Giannetti da Fonseca a tese não se se sustenta.
"Teríamos uma bolha de crescimento por um tempo e em seguida voltariam a indexação e a inflação forte. Seria necessário outro plano de estabilização, e assim recomeçaria a história da última década."
O economista-chefe do Citibank, Amaury Bier, afirma que "um país que flertou com a hiperinflação dificilmente conseguiria manter a inflação moderada e crescer simultaneamente".
Para o ex-ministro da Fazenda Mailson da Nóbrega, atual vice-presidente do banco BMC, no Brasil não é possível crescimento sem o estrito controle da inflação.
"Essa tese imagina que uma inflação de 25% ao ano pode ser domada. Não pode. Em pouco tempo, se restabelecem a indexação e a hiperinflação. Dizer que o Chile conseguiu crescer com 25% de inflação não vale nada. Eles não tinham nada equivalente aos 30 anos da plena indexação brasileira. E faziam as reformas com a ditadura."
Reformas estruturais
O vice-presidente da Ciesp (Confederação das Indústrias do Estado de São Paulo), Mário Bernardini, acha que o importante é ter crescimento sustentado, o que significa mais empregos e competitividade.
Para ele, a saída para os empresários é aprovar logo reformas estruturais -fiscal e tributária, administrativa e previdenciária-, além de estimular as privatizações.
Também a favor das reformas estruturais, o consultor de investimentos Roberto Teixeira da Costa, da Brasilpar, afirma que o que vai estimular o maior crescimento econômico é o aumento da poupança nacional e capital externo.
O economista e professor da FGV Paulo Nogueira Batista Júnior considera que Dornbusch está errado em achar que FHC possa tolerar uma retomada da inflação.
"Pela forma como foi eleito e pelo impacto que a inflação baixa tem sobre a sociedade, fatalmente Fernando Henrique continuará perseguindo o objetivo de inflação mais baixa", diz Batista Júnior.
Para Delfim Netto, deputado federal (PPB-SP) e ex-ministro da Fazenda e do Planejamento, "se forem feitos o ajuste das contas públicas e as privatizações e se for acertada a taxa de câmbio, como reclama Dornbusch, então não precisa de inflação para crescer".
O economista e professor da USP Paul Singer diz que o problema é continuar ancorando o controle inflacionário apenas no câmbio.
"O importante seria adotar outros mecanismos que impedissem o repasse de eventuais aumentos de custo aos preços dos produtos."

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