São Paulo, segunda-feira, 1 de abril de 1996
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Adolescentes elaboram e fazem estudo

CELIA ALMUDERA
DA REPORTAGEM LOCAL

Imagine ser abordado por um estranho na rua que começa a fazer uma pesquisa, com perguntas sobre sua sexualidade. Com certeza seria meio constrangedor.
É mais fácil falar sobre esses assuntos com alguém da mesma idade. E se a pesquisa for feita como uma história, onde você define a ação dos personagens, melhor.
Pensando nisso a coordenação do projeto Pró-Adolescente, da Secretaria Estadual da Saúde de São Paulo, convocou jovens para a pesquisa "Sexualidade e Plano de Vida do Adolescente".
"Ficamos uma semana montando a história de Paulo e Andréia, inclusive escolhemos os nomes", diz Marta Félix Lima, 25.
Marta é uma das pessoas que participou de todas as etapas dessa pesquisa, desde a elaboração das perguntas até o trabalho de campo, fazendo as perguntas aos teens com idades entre 12 e 24 anos.
Experiência de vida
"O entrevistado não estava falando dele, mas da situação de Paulo e Andréia. De certa forma, é mais fácil falar quando você acha que não está falando de você", diz Lindalva Leandro de Araújo, 24.
Para o grupo que participou da primeira fase da pesquisa, o mais importante foi a lição de vida que tiveram. Afinal, conheceram adolescentes de todas as classes sociais.
"Foi ótimo poder comparar as realidades e perceber que os problemas são parecidos, apesar das classes sociais serem diferentes", diz Tânia Mendes dos Anjos, 23.
Esses jovens acabaram entrando em cortiços, favelas e até em assentamentos de sem-terras. Ouviram histórias e coisas que nunca imaginavam existir.
"Entrevistei um rapaz que morava em um cortiço em Santa Bárbara do Oeste. No fim da pesquisa há uma lista de drogas. Ele conhecia todas e tinha usado todas", diz Sílvio Arcanjo de Oliveira, 25.
Histórias tristes
Para a maioria dos pesquisadores jovens a enquete não era apenas um trabalho, mas uma forma de poder ajudar os outros.
"Uns garotos me perguntaram se não poderiam usar balões de gás no lugar de camisinha. Por isso ficávamos muito tempo batendo papo depois das entrevistas, tentando esclarecer as principais dúvidas das pessoas", diz Claudionor dos Santos Oliveira, 22.
Muitas vezes, o pessimismo demonstrado pelos entrevistados deixava os pesquisadores adolescentes sem ação já que eles acabavam ouvindo histórias realmente tristes.
"Alguns eram tão sonhadores e outros eram pessimistas demais. Eles desistiam antes mesmo de começar a lutar. A realidade é muito dura para os adolescentes", diz Márcia Gomes Vilar, 24.
(CA)

LEIA MAIS sobre a pesquisa nas págs. 5-1 e 5-3

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