São Paulo, segunda-feira, 1 de abril de 1996
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A campanha começou

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Os neoliberais no poder, FHC e Tasso Jereissati, promoveram dispensável manifestação de fisiologismo político e cinismo pessoal. Não acreditei quando li que o governador do Ceará, ao lado do presidente da República, no mesmo palanque da demagogia desenfreada, afirmou que "quem está quebrando são os banqueiros e não o povo que passa fome".
Li depois, em outras fontes, que a declaração fora realmente feita, mudando algumas palavras, mas que o sentido da demagogia era esse mesmo. Para não ficar atrás, FHC declarou que "o povo não suporta fisiologia", o que é uma verdade. Não é o povo passando fome que está quebrando (ele já nasceu quebrado) nem é o povo que pratica fisiologia. Ele não é autor do Diário Oficial: é vítima.
Os dois próceres tucanos (e como merecem o nome de "próceres"!) deram um triste espetáculo humano e mental. São dois candidatos em campanha, esquecidos que foram eleitos há dois anos e ainda nada fizeram -a não ser as eternas, inúteis e muitas vezes imorais "articulações políticas". Prometeram mundos e fundos, aceitaram contribuições que nunca poderão ser pagas integralmente -e não estão satisfeitos. Preparam novo assalto ao poder através do fisiologismo mais desvairado.
Na campanha eleitoral que parece ter começado no Nordeste, o candidato FHC fica devendo a seu amigo Serjão a descoberta da cor daquilo que os quinhentistas chamavam de "vergonhas". Seus discursos estão inflamados, é um candidato indignado com a situação de miséria do mesmo país do qual é presidente há mais de um ano e mandachuva na área econômica há três.
Aqui no Sul fica difícil saber quem é o Serjão em nível cearense. Seja quem for, solicita-se a revelação da cor das vergonhas do sr. Tasso. Morre-se de fome no país, mas às vezes ele é divertido.

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