São Paulo, terça-feira, 2 de abril de 1996
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NA CARNE

Os números são estarrecedores. Dos cerca de 400 abatedouros municipais do Estado de São Paulo, apenas 6 têm condições de higiene para operar, como reconhece a própria Secretaria Estadual de Agricultura.
O pior de tudo é que o controle sanitário das reses abatidas no Brasil já foi considerado exemplar pela ONU nos anos 70. Conseguiu-se, portanto, o absurdo de piorar um serviço que funcionava bem.
Os danos para a saúde pública são alarmantes. Embora não exista um levantamento global, estudos em determinadas regiões dão a dimensão do problema. Na área de Fernandópolis, em São Paulo, por exemplo, 36% das tomografias realizadas na Santa Casa da cidade dão sinais positivos para a neurocisticercose, doença grave que pode deixar sérias sequelas neurológicas, mais comumente transmitida ao homem pela carne bovina ou suína. Em Fernandópolis, estima-se que 90% da carne seja abatida clandestinamente.
Especialistas atribuem a deterioração das condições sanitárias a uma lei de 1989 que determina que a carne destinada à exportação ou comércio interestadual seja inspecionada pelo SIF, órgão federal, e deixa a critério de Estados e municípios a fiscalização de seus mercados internos. Como apenas o SIF está de fato aparelhado para controlar o abate, a carne para exportação é considerada de boa qualidade, e, nos municípios, a situação é caótica, como bem mostraram as fotografias publicadas no domingo pela Folha de verdadeiras pocilgas onde são mortos os animais.
O respeito ao consumidor e ao cidadão é um dos requisitos básicos para a construção da noção de cidadania. O poder público tem a obrigação de fiscalizar os matadouros e está se furtando a esse imperativo, com graves consequências para a saúde da população. A situação é intolerável. É preciso que haja a garantia de que o cidadão não esteja se intoxicando quando pensa que está se alimentando.

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