São Paulo, quarta-feira, 3 de abril de 1996 |
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Econômico bate social em reunião do G-7
CLÓVIS ROSSI
O documento final põe a ênfase mais no controle do déficit público do que em políticas ativas para enfrentar o desafio dos 23,74 milhões de desempregados só no G-7. Diz: "Um crescimento vigoroso, durável e não-inflacionário só poderá ser alcançado no contexto de finanças públicas sadias. Os países do G-7 devem, então, comprometer-se a controlar melhor as despesas públicas, a fim de reduzir os déficits". É uma clara vitória das teses norte-americanas, o que até permitiu a seu secretário do Comércio, Ron Brown, ironizar o anfitrião, o presidente francês, Jacques Chirac, que defendera uma "terceira via" em políticas trabalhistas. Ou seja, um caminho intermediário entre o liberalismo anglo-saxão (Estados Unidos e Reino Unido), que leva a desemprego baixo e salários idem, e o protecionismo da Europa continental, que mantém os salários, mas causa altas taxas de desemprego. "A via certa" "A questão não é se tomamos a primeira via ou a segunda ou a terceira, mas, sim, se tomamos a via certa", fulminou ontem Brown. Ele citou números impressionantes sobre a evolução dos EUA durante o mandato do presidente Bill Clinton, candidato à reeleição em novembro deste ano: 1 - Foram criados mais de 8 milhões de novos empregos desde que o G-7 fez sua primeira reunião sobre o tema, em 1994. Com isso, a taxa de desemprego caiu de "mais de 6%" para 5,6%. 2 - O déficit reduziu-se de US$ 289 bilhões para US$ 140 bilhões. A partir desses dados, Brown tira o argumento para a tese de que reduzir o déficit é uma maneira de aumentar o emprego. Como o governo toma menos dinheiro emprestado, "torna disponíveis mais fundos nos mercados de capitais, o que sustenta altos níveis de investimento e forte crescimento da produtividade, essenciais para criar bons empregos". Teoria e prática O comissário europeu para Assuntos Econômicos, Yves-Thibault de Silguy, põe números na tese: "Uma redução de 1% no déficit (dos países do G-7) permite liberar US$ 75 bilhões de poupança para investir". É uma teoria perfeita, mas que não combina com a seguinte realidade: 1 - O "forte crescimento da produtividade" não ocorreu nos países da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico, que reúne os 26 países mais industrializados do mundo). Ao contrário: apesar das novas tecnologias, que favorecem ganhos de produtividade, "o crescimento dela foi mais lento nas duas últimas décadas do que nos anos 60 e início dos 70", diz relatório da OCDE. 2 - A criação de empregos, nos EUA, foi acompanhada de queda salarial, a ponto de 18% dos trabalhadores de tempo integral "estarem trabalhando hoje por menos do que a renda que marca a linha de pobreza", segundo relatório da OIT (Organização Internacional do Trabalho, agência da ONU). Joseph Stiglitz, presidente do Conselho de Assessores Econômicos de Clinton, garante que 60% dos novos empregos criados nos EUA entram na categoria de "bons empregos" (de altos salários). Fica claro, portanto, que 40% (ou 3,2 milhões) dos 8 milhões de empregos criados desde 94 são de baixa remuneração. Somados esses 3,2 milhões aos 7,9 milhões de desempregados norte-americanos, tem-se que 6,5% da força de trabalho ou é desempregada ou está mal-empregada. Taxa idêntica, portanto, à citada por Brown para 1994. O que só reafirma a pertinência da pergunta feita no discurso inaugural do presidente Chirac e não respondida pelo "G-7 Emprego": "Estamos condenados a escolher entre o desemprego e a precariedade (do trabalho)?". Cláusula social O documento do G-7 remete a cláusula social (vinculação de acordos comerciais ao respeito à normas trabalhistas) para futuros estudos. O texto diz que "é importante reforçar as normas sociais fundamentais no mundo todo e estudar os laços entre tais normas e o comércio internacional, nos foros apropriados". Próximo Texto: NOVA LÍNGUA DO TRABALHO Índice |
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