São Paulo, quinta-feira, 4 de abril de 1996
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Palmeiras busca internacionalização

MÁRIO MOREIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Faltando mais de um ano e meio para a possível concretização do Projeto Tóquio -a conquista do Mundial Interclubes em dezembro de 97, na capital japonesa-, o técnico do Palmeiras, Wanderley Luxemburgo, já pensa em dar experiência internacional a sua equipe.
O Palmeiras só conseguirá chegar ao Japão se vencer a Taça Libertadores do ano que vem. E, para disputar a Libertadores, terá que vencer o Campeonato Brasileiro ou a Copa do Brasil deste ano.
"Alguns jogos internacionais têm que acontecer para essa equipe amadurecer em nível mundial", afirma Luxemburgo, 43.
O Palmeiras tem três amistosos marcados na China, em junho. Em julho, deve fazer jogos na Europa: contra o Borussia Dortmund, na Alemanha, dois na Itália e dois na Espanha.
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Folha - Antes de iniciar o primeiro turno do Campeonato Paulista, era possível imaginar uma campanha com 14 vitórias e 1 empate?
Wanderley Luxemburgo - Não. Sabia que tinha um grupo de jogadores de qualidade, a proposta era de crescimento, mas não imaginei que faríamos essa campanha.
Os jogadores são os grandes responsáveis por isso. Mas existe uma sincronia geral, desde o Palmeiras com a Parmalat, passando pela comissão técnica, todos esses setores se tornando um grupo único.
Folha - O que explica a diferença do Palmeiras para os outros times?
Luxemburgo - A qualidade do nosso grupo é muito boa. O time cresceu muito, as peças se encaixaram perfeitamente, tanto a comissão técnica quanto os atletas.
Ficamos com uma equipe de técnica, de velocidade, de participação no jogo. Temos feito muitos gols, mas, na hora em que evitamos um gol do adversário, temos que sentir o mesmo prazer de quando marcamos um. Então o time está bem próximo do que penso sobre futebol.
Folha - Você tem dito sempre que o time não está pronto. O que ainda falta trabalhar nele? É possível fazer uma projeção de quando estará no ponto que você quer?
Luxemburgo - Isso é utópico. Não existe uma equipe que chegue ao ponto ideal. E precisar o momento em que ela estará próxima do ponto ideal é muito difícil.
Agora, pela nossa experiência, com tudo que está acontecendo de bom, ninguém pode, equilibradamente, conceber que a equipe esteja totalmente pronta.
O que conseguimos foi adiantar etapas, porque a qualidade permitiu. Os jogadores estão conseguindo, com a inteligência e a qualidade deles, entender mais rapidamente a nossa proposta.
Folha - O Palmeiras é hoje o melhor time do Brasil?
Luxemburgo - Hoje, é, pelos resultados. Mas ela ainda precisa consolidar sua posição com conquistas, o que é o grande desafio.
O Palmeiras pode hoje enfrentar qualquer time do mundo, sem problema. Só vamos ter dificuldade na parte tática, que não está completamente elaborada.
Eu conheço bem o Ajax, o Borussia, mas o meu atleta não se preocupa com isso. Então, fatalmente alguns jogos internacionais têm que acontecer para a equipe amadurecer em nível mundial.
O Djalminha, por exemplo, é um grande jogador. Jogou no Flamengo e no Guarani, foi para o Japão, agora está no Palmeiras, mas nunca teve uma participação internacional, intercâmbio. Ele precisa saber como joga o futebol europeu, como eles marcam, para crescer, para, na hora de uma disputa internacional, estar preparado.
Já temos alguns jogos programados no exterior, tudo dentro de um processo de crescimento e amadurecimento da equipe.
Folha - Coincidência ou não, depois que o Palmeiras começou a dar várias goleadas, outros times começaram a dar também. A seleção olímpica fez 8 a 2 em Gana, os times do Rio estão goleando os pequenos do Estado... Existe alguma influência do seu Palmeiras?
Luxemburgo - Não quero chamar para mim a responsabilidade de ser um precursor disso, mas a minha proposta é realmente de mudança. Acho que você pode ter uma equipe extremamente ofensiva sem ser vulnerável.
No primeiro turno, o Palmeiras fez 61 gols e só levou 8. Não é uma equipe vulnerável. Jogamos bem num campeonato que é um dos mais difíceis do mundo.
Acho que estamos contribuindo para mudar a mentalidade, porque todo mundo está acreditando que pode ser uma equipe ofensiva.
Todos da imprensa e a torcida em geral cobravam que você fazia 2 a 0 e começava a defender o resultado, humilhar o adversário, fazer cera, e a nossa proposta é o contrário: se fizer dois gols, buscar o terceiro; se fizer o terceiro, buscar o quarto. Aí, você mostra a sua superioridade. Mudou a mentalidade. Ninguém está mais se acomodando com um resultado.
Folha - Em 95, nos dez meses em que esteve fora do Palmeiras, o clube não ganhou nada, e você só conseguiu uma Taça Guanabara com o Flamengo. Agora que voltou, o Palmeiras está de novo bem. O que explica isso?
Luxemburgo - Mas você está se baseando apenas nos três últimos anos. Se buscar um pouquinho para trás, vai ver que tenho uma carreira de sucesso independente do Palmeiras. Fui campeão no Bragantino, no Rio Branco (ES), no Shabab, da Arábia Saudita, que nunca tinha sido campeão... Ser campeão no Bragantino é uma das coisas mais difíceis que existem.
Outra coisa: como se pode considerar meu trabalho ruim no Flamengo? A única conquista do Flamengo ano passado foi comigo.
Depois, quando fui para o Paraná Clube, a proposta era eu usar o meu nome para o clube crescer e ser visto de modo diferente no Campeonato Brasileiro, e também para o Estado do Paraná começar a contratar treinadores de melhor nível. Tanto que hoje o Leão está hoje dirigindo o Atlético-PR.
Folha - Como você se avalia hoje como treinador?
Luxemburgo - Não vamos falar de pontos específicos. Hoje sou melhor do que ontem e amanhã tenho que ser melhor do que hoje. A vida é dessa forma.
Por que eu quis implantar o computador nas conversas com os jogadores? Porque o quadro imantado já não era mais suficiente. O software que criei já foi mexido três vezes, e vamos mexer de novo.
Folha - Os elogios ao Palmeiras mexem de alguma forma com a sua vaidade?
Luxemburgo - De jeito nenhum. A única coisa que fico é bastante satisfeito, porque minha proposta foi bem aceita pelo time e por quem mexe com futebol. Não vou dizer que não fico contente, mas continuo sossegado.
Folha - Como trabalhar esse sucesso todo com os jogadores?
Luxemburgo - Procuro passar a realidade. Eles têm que ficar contentes, mas continuar com os pés no chão. O que este grupo conseguiu até agora foram grandes vitórias e mais nada.
Temos conversado bastante, e, quando abro para eles dizerem o que estão pensando, vejo que a proposta é idêntica à minha.
No último jogo, contra o XV de Jaú (vitória de 4 a 0), houve oscilação, o que já foi cobrado. Eles disseram que faltou um pouquinho mais de participação, então estão conscientes de que a equipe não conquistou nada.

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