São Paulo, quinta-feira, 4 de abril de 1996
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Jim Harrison prefere direção de Barreto

MARCEL PLASSE
ESPECIAL PARA A FOLHA

Jim Harrison é celebrado como um dos grandes escritores americanos contemporâneos. É uma descoberta tardia, alimentada por adaptações cinematográficas que odeia, como "Lendas da Paixão".
O último diretor a se aventurar com um de seus livros foi Bruno Barreto. E, pela primeira vez, o escritor se diz satisfeito.
O livro "Atos de Amor", que Barreto adaptou, sai agora no Brasil, 20 anos após ter sido escrito, pela Companhia das Letras.
Esteve no Rio e na Bahia, há 12 anos, tentando escrever um roteiro com Sonia Braga em mente. Mas o filme nunca saiu do papel.
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Folha - Você gostou da adaptação cinematográfica de "Atos de Amor", feita por Bruno Barreto?
Jim Harrison - Muito. É a melhor das cinco adaptações já feitas do meu trabalho. É a mais próxima do sentimento original da minha obra e foi muito bem dirigida. De forma curiosa, o ator que Bruno escolheu, Dennis Hopper, é do Kansas e sabia como agir.
Folha - O livro é descritivo e tem poucos diálogos. Isso não dificulta sua transformação em filme?
Harrison - Sim, mas o que me fez ficar interessado em Barreto foi a sua adaptação de "Dona Flor e seus Dois Maridos". Um diretor estrangeiro pode ser mais fiel do que os americanos, como Milos Forman, em "Um Estranho no Ninho". Bruno Barreto é mais inteligente e literário do que a maioria dos diretores americanos. Como leu mais, é fácil lidar com ele.
Folha - Incomoda esperar 20 anos para um livro como "Atos de Amor" chegar a Hollywood?
Harrison - Já me acostumei. "Lendas da Paixão" foi escrito quase na mesma época. Mas me sinto muito distante dos filmes. Só "Atos de Amor" me passou o mesmo tipo de sentimentos que tive quando escrevi o livro.
Folha - Você vê pontos de convergência entre "Lendas da Paixão" e "Vidas Amargas"?
Harrison - Não. Pode ter ocorrido inconscientemente. Aos 15 anos, "Vidas Amargas" era um dos meus livros favoritos.
Folha - Por que seus livros são cheios de perdedores, bêbados e pessoas sem direção?
Harrison - Porque o mundo é assim. Fui assim na maior parte da minha vida.
Folha - Por que seus personagens só descobrem o amor quando é tarde demais?
Harrison - Porque é a minha experiência. Exceto quando eu era jovem, quando me apaixonava uma vez por semana.
Folha - Como você se conectou com Hollywood?
Harrison - A maioria dos escritores americanos são professores, mas eu não queria seguir essa carreira. Tive de fazer roteiros, porque meus livros não vendiam bem no início.
Folha - Você gostou da experiência de roteirista em "Lobo"?
Harrison - Não. Consegui que Jack Nicholson fizesse o filme, mas os produtores fecharam com o diretor errado. Mike Nichols transformou o roteiro numa história de lobisomem. A história original falava de um homem que virava lobo, mas como um conto infantil. Disse ao diretor que arrancaria seu coração e abandonei o filme.
Folha - Hollywood vai filmar mais livros seus?
Harrison - Sim, compraram os direitos de mais três. Queria que Bruno filmasse outro. Bruno e eu planejamos escrever um filme erótico. Não há muitos nos EUA.
Folha - Os releases de seus livros costumam compará-lo com Hemingway e Faulkner. Você concorda com isso?
Harrison - Não gosto. Não me importo muito com Hemingway. Steinbeck é mais interessante.

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