São Paulo, quinta-feira, 4 de abril de 1996
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Mulheres e empregos

CLÓVIS ROSSI

Paris - Durante a recente campanha eleitoral espanhola, o premiê Felipe González usou, como explicação para ao menos parte do elevado desemprego no país, o fato de que "2 milhões de mulheres tiveram acesso ao mercado de trabalho" só no seu período de governo, iniciado em 1982.
Parecia desculpa de governante incomodado com estatísticas nada recomendáveis.
Talvez não seja. Tome-se, por exemplo, o caso de Lille, a região do norte francês que foi sede do recém-encerrado "G-7 Emprego", reunião especial do clube dos sete países mais ricos do mundo.
Entre os censos de 1962 e 1992, o número de mulheres no mercado de trabalho passou de 400 mil para 671 mil, o que representa um aumento de quase 70%.
Se é possível globalizar o exemplo de Lille (e nada indica que não o seja), pode-se perfeitamente concluir que aumentou 70% o número de pessoas em busca de trabalho, na comparação com 30 anos atrás, época em que se inicia, grosso modo, o ingresso em massa das mulheres na força de trabalho fora de casa (em casa, elas já trabalhavam, e muito, desde sempre).
Logo, é razoável concluir que, para atender à nova demanda, as economias precisariam crescer 70% mais do que cresciam há 30 anos, se se aceitar que não mudaram as demais variáveis que influem sobre o mercado de trabalho, o que não é consensual.
Aconteceu o contrário: o crescimento médio da economia mundial se desacelerou, sempre na comparação com os anos 60. Logo, falta emprego para essa massa toda de gente que busca trabalho.
Como não há hipótese nem seria justo forçar as mulheres a voltar no tempo, a alternativa restante é retornar ao crescimento acelerado de antes. Ou eternizar o drama do desemprego.

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