São Paulo, sexta-feira, 12 de abril de 1996
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Lampreia teme retaliação contra o Brasil

LUIZ ANTONIO CINTRA
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

O ministro das Relações Exteriores, Luiz Felipe Lampreia, afirmou ontem que é contra a chamada "cláusula social" que pode ser adotada pela OMC (Organização Mundial do Comércio), que estabelece regras para o comércio mundial.
Caso a OMC adote essa cláusula, países cujas condições de trabalho sejam consideradas precárias podem vir a sofrer retaliações.
Para Lampreia, "o país não quer" essa cláusula -que, diz ele, é fruto de uma postura protecionista dos EUA e da França- porque as consequências para as exportações brasileiras "são imprevisíveis".
"No fundo, é protecionismo. Os EUA e a França propuseram essa cláusula não porque estejam preocupados com as condições de trabalho no Brasil. Querem é se proteger e, assim, diminuir suas taxas de desemprego."
As declarações foram feitas depois de o ministro ter falado à Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados. Lampreia comentou a política externa do governo Fernando Henrique Cardoso.
Menores
Para reforçar o argumento de que o Brasil pode ser prejudicado caso a OMC adote a sugestão da França e dos EUA, Lampreia citou o caso da indústria brasileira de calçados.
"Se uma indústria de Franca emprega um menor -com 15 anos, por exemplo-, isso pode servir de argumento para proibirem toda a indústria brasileira de exportar calçados para os EUA", afirmou.
O ministro disse ainda que "não sabe se é necessariamente mau" o fato de algumas indústrias empregarem adolescentes.
"O que certamente é ruim é uma criança de oito anos trabalhar 12 horas por dias, sem condições de continuar estudando", disse.
Durante seu depoimento à comissão da Câmara, Lampreia foi perguntado por um dos deputados se o Brasil não pretende agir contra os países que praticam concorrência desleal. O deputado se referiu especificamente ao caso da China.
Lampreia afirmou que, para o Brasil, é "condição essencial" se proteger desse tipo de concorrência. Entre as medidas que poderiam ser adotadas, segundo o ministro, está uma maior taxação.
Mais tarde, ele concordou que, nesse caso, uma "cláusula social" na OMC poderia ser benéfica para o Brasil.
"Mas é uma faca de dois gumes. Desse jeito, nos países onde os salários são mais baixos, ninguém vai conseguir exportar", afirmou o ministro.
Para Lampreia, desleal é, por exemplo, vender produtos abaixo do preço de custo ou produtos que em seu país de origem recebam algum tipo de subsídio.

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