São Paulo, domingo, 14 de abril de 1996
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Telesp perde US$ 10 mi com fraude em telefone celular

Gangues causaram prejuízo de US$ 1 bi nos EUA no ano passado

ELVIRA LOBATO
DA REPORTAGEM LOCAL

Fraudes na telefonia celular, praticadas por quadrilhas internacionais, causaram prejuízo de US$ 10 milhões à Telesp (telefônica de São Paulo) no ano passado e de US$ 2 milhões à Telerj (do Rio).
A fraude mais comum praticada em São Paulo é feita por meio da compra de telefones celulares no mercado paralelo. Os golpistas compram o telefone de intermediários e mantêm as linhas em nome dos antigos proprietários.
Quando as telefônicas percebem o golpe, desativam o aparelho, mas o rombo já está feito. Há casos de contas de até R$ 200 mil em apenas um mês. Quando os aparelhos são desligados, os fraudadores simplesmente os jogam no lixo.
Até agora as empresas do Sistema Telebrás assumiram os prejuízos, mas 12 moradores de Ribeirão Preto (SP), que venderam cartas para habilitação de celular no mercado paralelo, serão cobrados pela Ceterp -a telefônica do município- pelo prejuízo de R$ 300 mil causados pelos golpistas.
Clone
Outra forma mais sofisticada de fraude é a do clone. Com o uso de "scanners", as quadrilhas captam, no ar, o código de um determinado celular e o copiam em um aparelho novo, que passa a funcionar como extensão do original.
Essa modalidade é a que mais se propaga no mundo e uma das mais difíceis de ser combatida, pois os "scanners" são vendidos em lojas, nos EUA, por apenas US$ 1.200.
As fraudes com celulares deram prejuízo de US$ 1 bilhão às companhias telefônicas norte-americanas no ano passado. Elas já constataram que os golpes estão ligados ao tráfico de drogas, venda ilegal de armas e lavagem de dinheiro.
As quadrilhas começaram a agir em São Paulo no início do ano passado. Até agora a Polícia Civil, que abriu dois inquéritos para investigar o assunto, não conseguiu apanhar nenhum dos envolvidos.
Depois de oito meses de investigação, o 5º Distrito Policial de São Paulo apurou apenas que os autores das fraudes são, em sua maioria, libaneses, armênios, iraquianos, iranianos e egípcios. E que eles são acobertados pelas comunidades de imigrantes.
Os primeiros clones de celular identificados no Brasil foram feitos no Rio de Janeiro e trazidos para São Paulo, segundo informa o presidente da Telerj, Danilo Lobo.
O motivo de fazer a clonagem em outro Estado é dificultar o rastreamento das ligações. Quando um clone é usado na mesma cidade em que está o telefone original, a telefônica pode perceber que um mesmo aparelho está gerando duas ligações simultâneas e bloquear as chamadas.
Líbano
Nas duas modalidades de fraude -clone e compra das linhas no mercado paralelo-, o principal destino das ligações internacionais é o Líbano, com conexões para a Europa e outros continentes.
Explica-se: o celular tem um recurso chamado "conference call", ou chamada em conferência. Ela permite que o dono do aparelho chame um determinado número e, completada a ligação, ligue para outro número. Assim, a linha fica aberta para que os três conversem.
Como a maioria das chamadas internacionais feitas pelas quadrilhas usam o "conference call", as companhias telefônicas suspenderam o uso do recurso nas chamadas para países do Oriente Médio.
Na Telerj, as ligações para esses países por meio de celulares só podem ser feitas com auxílio da telefonista, informa Danilo Lobo.
A preocupação com as fraudes fez com que a Telesp constituísse um grupo permanente de trabalho para detectá-las, segundo Gilson Rondinelli, superintendente de telefonia celular da estatal.
Diante da dificuldade para identificação das quadrilhas, as companhias telefônicas também estão se armando com outros recursos.
O Sistema Telebrás fará concorrência, ainda neste semestre, para montar um sistema nacional de rastreamento de fraudes.

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