São Paulo, domingo, 14 de abril de 1996
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Sina de 'Pixote' persegue menor de rua

LALO DE ALMEIDA; ROGERIO WASSERMANN

LALO DE ALMEIDA
ROGERIO WASSERMANN
da Reportagem Local
De setembro de 1990 para cá, o Brasil trocou duas vezes de presidente, duas vezes de moeda e passou por dois planos econômicos. Mas para 17 meninos e meninas das ruas do centro de São Paulo a vida mudou pouco.
Esses 17 adolescentes, fotografados pelo repórter-fotográfico Lalo de Almeida em setembro de 1990, foram localizados pela Folha cinco anos e sete meses depois. Na época, eles tinham entre 8 e 21 anos.
Como no filme "Pixote" (1980), de Hector Babenco, suas histórias de vida raramente fogem do circuito rua-Febem-prisão.
Dos 17, 8 estão presos, 2 estão na Febem, 2 morreram e 4 continuam nas ruas do centro da cidade.
Apenas uma, que tem hoje 18 anos, mudou de vida. Mora em Caieiras (Grande São Paulo) e trabalha como empregada doméstica em uma casa vizinha à sua. Ganha R$ 80 por mês.
Apelidos
Por medo da polícia, hoje os menores não ficam mais na Sé. Os antigos "habitantes" da praça estão refugiados no vale do Anhangabaú, praça da República, região da estação da Luz e da baixada do Glicério, tudo na região central.
Na rua, os garotos são conhecidos quase sempre por apelidos. São poucos os que falam abertamente os seus nomes aos outros.
A origem do apelido pode ser uma característica física ("Ferrugem" para dois meninos que tinham sardas na cara) ou a compreensão errada de uma palavra ("Copan" é uma corruptela de Copom, a central da polícia, palavra ouvida dentro de um carro policial).
Brigas
O aparecimento do crack contribuiu para deteriorar ainda mais suas vidas. Os próprios garotos afirmam que hoje estão mais mal vestidos, mais sujos, mais magros.
A amizade e o companheirismo também diminuiu. As brigas motivadas pelo comércio da droga são diárias.
Entre os 17 adolescentes encontrados pela Folha, há histórias de abandono, abuso sexual, pais alcoólatras e espancamento.
Segundo eles, as circunstâncias acabam por transformar a vida na rua menos insuportável que em casa.

LEIA MAIS sobre meninos de rua da página 3-2 à página 3-5

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