São Paulo, domingo, 14 de abril de 1996
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Bancos enfrentam grau recorde de risco

RODNEY VERGILI
DA REDAÇÃO

A inadimplência ameaça voltar com força. O indicador que mede o risco dos empréstimos bancários bateu recorde dos últimos seis anos e está mais de oito vezes acima da média histórica.
Os bancos podem deixar de receber boa parte dos empréstimos que fizeram, principalmente de pequenas e médias empresas.
O primeiro sintoma disso é que estão aumentando os atrasos de pagamento nos créditos concedidos a empresas, por causa dos juros elevados.
É o que revela o indicador de risco bancário preparado pelo Centro de Pesquisas em Crédito e Banking da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP).
Pessoas físicas
Os altos juros praticados desde o início do Plano Real agravaram inicialmente a inadimplência de pessoas físicas.
Agora, o processo alcança também as empresas, que passaram a ter maiores dificuldades para cumprir seus compromissos financeiros.
O professor Alberto Borges Matias, coordenador do Centro de Pesquisas em Crédito e Banking da FEA-USP, considera "lamentável a qualidade dos balanços dos bancos brasileiros".
Risco de crédito
O indicador "risco bancário" é um termômetro da qualidade dos empréstimos dos bancos. Ele varia de zero a cem. A análise dos balanços anuais de 95 aponta para um índice de 86, o que representa o maior risco bancário da década.
Esse indicador vinha declinando desde o início da década de 90. As empresas iniciaram o Plano Real bastante capitalizadas.
A inadimplência em junho de 94 era de apenas cinco, ou seja, a metade da média histórica.
O índice de risco bancário é zero quando os bancos estão recebendo a totalidade de seus empréstimos em dia. Caso o índice seja 100, isso significa que os atrasos de pagamentos são dez vezes acima do normal (indicador médio de 10).
Matias diz que o índice de 86 nos balanços anuais dos bancos do ano passado indica que 1996 será "o ano da crise empresarial brasileira, notadamente de pequenas e médias empresas".
Assim, o ano de 95 caracterizou-se por forte inadimplência das pessoas físicas.
Concordatas brancas
Há uma onda crescente de concordatas brancas, diz Alberto Borges Matias, também fundador da Faculdade de Economia e Administração (FEA-USP) de Ribeirão Preto (SP) e consultor de empresas públicas e privadas.
A concordata branca caracteriza-se pela negociação que as empresas estão fazendo com os bancos.
As empresas ameaçam pedir concordata se não houver apoio dos bancos credores na renegociação de suas dívidas.
O recorde de falências este ano só não acontecerá se o governo baixar os juros de forma expressiva no crédito.
Para ele, os juros altos não freiam o consumo. Os juros ao consumidor chegaram a 19% ao mês e mesmo assim houve substancial crescimento nas vendas a prazo no segundo semestre de 94, exemplifica.
Para Matias, é impraticável para as empresas brasileiras tomarem empréstimos no patamar de juros atuais.
A rentabilidade média das empresas é de 7% ao ano e as companhias precisam pagar juros de 80% ao ano. Nos Estados Unidos, a rentabilidade das empresas é de 14% ao ano e as taxas de juros dos empréstimos variam entre 8% e 10% ao ano, diz.

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