São Paulo, domingo, 14 de abril de 1996
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'Virei vaca porque jogava como homem'

SUZANNE WESTENHOEFER

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Pergunta - Sempre achei que a razão pela qual não lhe apoiavam não era tanto o fato de você ser gay mas porque você entrava na quadra e competia como homem.
Navratilova - Isso mesmo. Muitas pessoas se sentiam ameaçadas por isso. Eu não pedia desculpas por nada. Eu jogava como os homens jogam. Eu era o pior pesadelo deles, em todos os sentidos.
Então, eles tinham que tentar me humilhar. Diziam coisas tipo: "Ela é comunista. Ela é uma vaca. Deve estar usando esteróides. Ela é homem." Qualquer coisa. Tive que lutar contra todos, em um momento ou outro da minha vida.
Pergunta - Você gosta quando as pessoas se aproximam de você?
Navratilova - Gosto quando o fazem pelas razões certas. Gosto quando querem me reconhecer pelo que já fiz e pelo que represento. Mas quando dizem: "Oh, Martina!", fica uma coisa realmente sexual; só querem me tocar.
Pergunta - E se sua fama diminuir? Como você vai se sentir?
Navratilova - Vai diminuir e depois vai se estabilizar. Billie Jean é tão reconhecida hoje quanto era dez anos atrás.
Pergunta - É possível que as lésbicas jovens surgindo hoje algum dia não saibam quem você é?
Navratilova - Isso já aconteceu. Outro dia estive num evento com um grupo de colegiais e havia uma garota de 15 anos que não sabia quem eu era. Mas depois que batemos um papo, ela ficou impressionada com o que faço agora, não com o que já fiz, e isso foi ótimo.
Pergunta - Vamos ao que interessa. Quando você namora, qual o tipo de mulher que você gosta?
Navratilova - Parece que agora são loiras. Vou me abrir. Acho que gosto de mulheres de pele morena, mas cabelo loiro. Mas, se você olhar as mulheres que já namorei, verá que também já houve morenas. Mas o que vale é a pessoa.
Pergunta - Me conte sobre essa pessoa. Ela é agressiva? É tímida?
Navratilova - Gosto de mulheres fortes, mas acabo com mulheres que não o são. Estou fazendo terapia para tentar compreender essa coisa. Vou entender, US$ 5.000 mais tarde (ri).
Pergunta - Terapia?
Navratilova - Comecei a fazer terapia cinco anos atrás, depois de me separar da Judy. Foi ótimo. Pena que não comecei mais cedo.
Aprendi minha lição e me tornei uma pessoa melhor. Estou fazendo progressos, rompendo meus condicionamentos anteriores.
Estou prestando mais atenção ao que as pessoas fazem e não tanto ao que dizem. Isso sempre foi meu ponto fraco, porque eu sou do tipo que faz o que diz.
Não faço besteira. Digo as coisas com franqueza e por isso sempre acho que as outras pessoas são como eu. É muito egoísta.
Pergunta - Acho que é mais ingênua do que egoísta.
Navratilova - Seja o que for, é burrice. Hoje, presto atenção ao que fazem, não ao que dizem.
Pergunta - Quem segura o controle remoto nas suas relações?
Navratilova - De início era eu, depois passava para ela.
Pergunta - Quer dizer que você perdia o controle.
Navratilova - Perdia completamente. Foi assim todas as vezes, mas isso não vai acontecer mais.
Pergunta - Você quem vai ficar com o controle remoto na mão?
Navratilova - Não, vai ser uma coisa equilibrada.
Pergunta - Talvez vocês pudessem ter dois controles remotos.
Navratilova - Seria um equilíbrio, mas eu não tenho vontade nenhuma de controlar.
Pergunta - Você anda surfando pela Internet?
Navratilova - Muito. É superdivertido. É gostoso ficar anônima; as pessoas não sabem quem você é.
Pergunta - Elas não sabem que é você. Falam a seu respeito?
Navratilova - Algumas vezes estavam falando de mim. Uma vez disseram: "Não acredito como Martina pôde deixar Judy. O que ela tinha na cabeça?". E eu escrevi: "Talvez ela estivesse querendo conservar seu dinheiro e sua sanidade mental" (ri).
Pergunta - Alguém já tentou te paquerar sem lhe conhecer?
Navratilova - Não. Seria engraçado. Outro dia um cara se aproximou. Eu estava sentada num bar, passando gelo no tornozelo, porque o tinha contundido.
Em todo caso, esse cara se aproximou por trás e perguntou: "Você é Stephanie Agassi?". Ele não fazia idéia de quem eu era.
Pergunta - Stephanie Agassi? Ele devia entender muito de tênis.
Navratilova - Teria sido interessante se ele tivesse tentado me paquerar, porque ele não saberia que sou lésbica. Os homens já se sentem tão ameaçados por mulheres famosas, e aí, ainda por cima, eu sou lésbica.
Pergunta - Você é lésbica? Meu Deus, isso muda tudo.
Navratilova - Eu estava justamente pensando nisso.
Pergunta - Como alguém pode provar que é lésbica? "Tenho vídeos de mim com a Madonna."
Navratilova - Bem, eu não tenho fotos incriminadoras -o que deve ser uma boa coisa (ri). Se houvesse alguma, você provavelmente já teria visto.
Pergunta - Você já fez tanta coisa. O que você vai fazer agora?
Navratilova - Quero me divertir um pouco. Minha maior meta é encontrar uma parceira de alma.
Pergunta - Algo mais a dizer sobre sua parceira de alma?
Navratilova - Não me importaria em estar com alguém mais famosa do que eu. As pessoas pediriam o autógrafo dela, não o meu. Já tive minha devida parcela de atenção e holofotes, e, realmente, não preciso mais disso.

Entrevista concedida à revista norte-americana "Advocate", dirigida ao público homossexual

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