São Paulo, domingo, 14 de abril de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Suposto Unabomber cria onda de simpatia

RICHARD PRICE
DO "USA TODAY",

em Lincoln
Uma semana depois de Theodore Kaczynski ser preso em sua cabana nas montanhas perto de Lincoln, Montana, há sinais de que um lado da psique americana acha o suspeito Unabomber mais intrigante do que assustador.
Apesar da indignação suscitada pelos 18 anos de terror que mataram três pessoas e feriram 23, o ermitão de 53 anos está sendo romantizado por algumas pessoas por seu intelecto e seu enigmático estilo de vida, sua capacidade de passar a perna na sociedade e, sobretudo, talvez, por suas críticas à tecnologia e à destruição do meio ambiente. Algumas pessoas chegam a sentir pena de Kaczynski e o vêem como um rapaz brilhante que enveredou pelo mau caminho.
"Analisar" Kaczynski virou jogo nacional, e os primeiros sinais dessa reação ambígua se manifestaram no ciberespaço. Um "Fundo de Defesa de Kaczynski" surgiu na Internet, com mensagens de apoio e denúncia, e também uma campanha "Kaczynski para Presidente", em tom satírico.
Mas mensagens de apoio às suas idéias também estão aparecendo em cartas aos editores de jornais e programas de entrevistas na TV. As pessoas acham os atentados repreensíveis, mas também acham difícil odiar Kaczynski.
"Sob alguns aspectos, eu o admiro", concorda Brian Chichester, escritor de livros de ginástica e saúde, em Emmaus, Pensilvânia. Não pelas bombas, mas pela filosofia "de volta ao fundamental" e por seu espírito resoluto.
Sua opinião não é compartilhada por Patrick Fischer. "Ele não é um herói, é um 'serial killer'", diz o aparente alvo de uma bomba entregue no dia 5 de maio de 1982 em seu escritório na Universidade Vanderbilt, em Nashville, onde ele ensina informática. "Sinto pena dele, mas também de minha secretária, que foi ferida, e das três pessoas que foram mortas."
Muitos acham que o caso de Theodore Kaczynski equivale a um único crime muito incomum. Ele jogou xadrez mental com o FBI por muitos anos. "Ele jogou com a maior mídia do mundo e ganhou. Conseguiu fazer seu manifesto de 35 mil palavras ser publicado", diz Chichester.
O manifesto do Unabomber, reproduzido no "The Washington Post" e no "The New York Times", revelava um intelecto intenso advogando "uma revolução contra o sistema industrial" e denunciando o abuso do meio ambiente pela sociedade.
Howard Harper, 48, é operário na construção civil e vive a pouca distância da cabana onde Kaczynski foi preso. Harper também está preocupado com o ambiente e acha que, indiretamente, Kaczynski pode fazer algo de bom.
"Não é ele o grande problema", diz Harper. "O problema real é essa mina de ouro que querem colocar em nosso vale. Ela vai estragar tudo. Talvez essa coisa toda em torno de Kaczynski sirva para chamar a atenção das pessoas para nossos problemas."

Texto Anterior: Montana entra no mapa do terrorismo
Próximo Texto: Montana faz humor com nova celebridade
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.