São Paulo, domingo, 14 de abril de 1996
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Questionamento; Leis canônicas; Participação oculta; Fisiologismo; Mercenarismo; Camelôs; Quintal alheio; Título de eleitor

Questionamento
"Se é verdade que há aqui liberdade de expressão, devo dizer que já é hora de começarmos a questionar sobre se o Congresso, no modelo atual, é mesmo essencial à democracia.
Será que isso não é apenas mais uma simples lição decorada, sem sentido prático, um grande mito enfim (muito conveniente para os intocáveis que tudo podem)?
Deve haver alguma outra forma de representação popular que não exija que sustentemos calados os apetites daqueles falsos representantes, dos que só cuidam de seus interesses particulares, sem o mínimo respeito aos eleitores e à nação e que infelizmente parece que já são maioria."
Conrado Ferreira Campos (Frutal, MG)

Leis canônicas
"Continua levantando polêmica o projeto de casamento de Edir de Brito com Elzimar de Lourdes Serafim. Os bispos católicos e alguns moralistas aplicaram as normas canônicas que proíbem o casamento de pessoas definitivamente impotentes, como é o caso de Edir. É a aplicação burocrática da lei eclesiástica.
No caso em pauta, a noiva Elzimar abre mão da genitália do parceiro para abraçá-lo por inteiro, na pessoa que ele é. Um gesto desses, de grande qualidade ética, é digno de toda a admiração e elogios.
É muito oportuno que o caso de Edir e Elzimar tenha vindo ao debate aberto revelando que, no mínimo, devem ser revistas leis canônicas que se sobrepõem à amplitude da ética e ao infinito amor evangélico.
Está na hora de recordar a sentença de Cristo dirigida aos fariseus a respeito da lei sabática: o sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado (Mc. 2,27)."
Olinto A. Pegoraro, professor de ética da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e membro do Centro Ética e Sociedade da universidade (Rio de Janeiro, RJ)

Participação oculta
"Tenho observado diariamente a manchete sobre FHC. Com desprazer, devo dizer, pois não vejo o mesmo empenho em apontar as mazelas do Estado de São Paulo, consequência de suas desastradas administrações anteriores.
Comentando com um amigo essa situação, este me perguntou se eu ignorava ser a Folha um jornal com participação clara (ou oculta?) de Orestes Quércia. E que a Folha era um jornal do PMDB.
Confesso que, se confirmo essa informação, deixo de renovar minha próxima assinatura.
O aspecto mais preocupante desse posicionamento, entretanto, é a falha do jornal em refletir uma verdade, educando seus leitores para um aperfeiçoamento necessário: o de que temos uma boa parte de congressistas e partidos fisiológicos, que só votam em função de seus interesses particulares, e que praticamente colocam o governo contra a parede em cada votação, mesmo as de alto interesse para o país.
Será que algum governo neste país, sem maioria, consegue governar se não se dobrar a esses interesses?"
Régis Lúcio Redígolo (São Paulo, SP)

Nota da Redação - A Folha não tem e não quer ter a participação clara ou oculta de qualquer político ou partido. É conhecida a posição apartidária do jornal e seu empenho em desenvolver um jornalismo crítico.

Fisiologismo
"Parabéns a Clóvis Rossi pela publicação do fax da estudante de direito Adriana Zago Gonçalves. É realmente muito triste saber que a legitimação do fisiologismo atingiu até mesmo aqueles que deveriam ser os primeiros a se rebelar contra ela.
Felizmente, nem tudo está perdido, pois estudantes do gabarito de Adriana ainda existem e se posicionam de forma tão lúcida e consciente contra a propagação desse mal que corrompe e destrói as nossas estruturas sociais."
Cecília Moricochi Morato (Franca, SP)

Mercenarismo
"Mercenária a frase de Zé Elias, volante do Corinthians. Essa de reclamar da maratona de jogos 'porque somos seres humanos' é para chorar ou sorrir?
Ele deveria ler a biografia de Garrincha e veria que nos anos 50 e 60 os jogadores participavam de campeonatos regionais com turnos e returnos e, durante dois ou três meses, excursionavam pela Europa e América Latina, quase sempre jogando uma partida por dia. Nem por isso Pelé reclamou.
E, por acaso, os operários da construção civil, os agricultores e outras profissões que exigem desgaste físico diário são desumanas? Se são, todos merecem ganhar algo parecido com o que Zé Elias ganha."
Mauro Sampaio (Teresina, PI)

Camelôs
"Eles estão por todo o mundo. Em Paris, na avenue Saint Germain. Em Londres, na Oxford Street. Em Lima entopem até o meio da rua. Em Nova York, na 5th Avenue.
Qual o turista brasileiro que ainda não aproveitou a oportunidade de comprar sem pagar taxas? Por que o Brasil do Terceiro Mundo quer ser mais bonito do que os outros?
Deixem em paz os marreteiros."
Tito Fleury (São Paulo, SP)

Quintal alheio
"Deve ser mais fácil e cômodo defender a tese da função 'social' da propriedade quando se trata de aplicá-la sobre a propriedade e os bens alheios.
Aqueles que defendem ou contemplam o direito à propriedade em contraposição ao direito de propriedade deveriam, para exemplo, hipotecar seus próprios bens às necessidades sociais.
Assim seria superada aquela histórica incoerência, hipocrisia e demagogia entre o espírito da lei e a intenção do legislador brasileiro que sempre legislou leis para serem cumpridas pelos outros e aplicadas nos outros."
Gilberto Motta da Silva (Curitiba, PR)

Título de eleitor
"A Folha noticiou em 28/3 que o 'TSE quer tirar a exigência da identidade' para o eleitor. A hipótese me causou espanto.
Ocorreu-me, em várias ocasiões, a idéia de sugerir que o TSE, ao contrário, tirasse a exigência de títulos de eleitor (papel a meu ver absolutamente dispensável, mesmo para os fins a que se destina) e direcionasse tal esforço e gastos em seu mister de identificar eleitores, para emitir carteiras de identidade civil em convênio com os Estados.
Os cabos eleitorais e os demais políticos passariam a se empenhar mais, sem dúvida, no esforço de transformar indivíduos em cidadãos plenos, dotando-os do documento de identidade."
Antonio Francisco das Neves (Belo Horizonte, MG)

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