São Paulo, segunda-feira, 15 de abril de 1996
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Clã Caymmi encerra o 4º Heineken com euforia

CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Com a noite liderada pelo compositor e violonista Dori Caymmi, no Palace, em São Paulo, terminou anteontem a quarta edição do Heineken Concerts.
Foi uma escolha perfeita para fechar o festival, dedicado este ano a músicos brasileiros com mais projeção no exterior do que em seu próprio país.
Bem-humorado, o filho mais velho de Dorival Caymmi não perdeu a chance de ironizar sua injusta condição durante o show. Abriu a noite justamente com "Amazonas", uma espécie de retrato musical do país, que dedicou a Heitor Villa-Lobos.
"O Villa era aplaudido nos Estados Unidos e na Europa, mas vaiado no Brasil. Mais ou menos o que acontece comigo", alfinetou de cara Dori, que vive nos EUA já há alguns anos.
Muito bem acompanhado, com destaque para o baixo do norte-americano Abraham Laboriel e os sopros do paulista Teco Cardoso, Dori exibiu uma variada síntese de sua obra, como autor e arranjador.
Em números como o baião "Deserto" ou a delicada canção "Correnteza", mostrou que é um compositor no sentido mais clássico do termo. O ideal de sua música está ligado à beleza e à poesia, sem concessões a modismos.
Arranjador brilhante, Dori comprovou todo seu "know-how", em originais versões de "Aquarela do Brasil" (de Ary Barroso) e "Samba de Uma Nota Só" (Jobim).
Nem o próprio espetáculo escapou de sua verve irônica. "Este show tem mais convidado do que camarote presidencial durante o Carnaval", ironizou Dori, ao introduzir a irmã Nana Caymmi.
Juntos, cantaram a maior surpresa da noite, em termos de repertório: uma delicada versão de "Primavera", de Tim Maia.
Outro momento especial veio com a entrada da cantora Gal Costa, que recordou os arranjos escritos por Dori, três décadas atrás, para seu primeiro álbum ("Domingo"). Em duo, cantaram "Coração Vagabundo" e "Avarandado" (de Caetano Veloso).
Mas o convidado mais esperado da noite era mesmo o patriarca da família Caymmi, que foi recebido de pé, pela platéia eufórica.
Com seu vozeirão em plena forma, Dorival relembrou preciosidades de sua autoria, como "O Vento", "Só Louco", "É Doce Morrer no Mar"' e "Marina".
Só por chamar um pouco mais da atenção dos brasileiros para a música de Dori, Eliane Elias e grupo Uakti, o Heineken Concerts já merece um longo aplauso.

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