São Paulo, segunda-feira, 15 de abril de 1996
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A REFORMA QUE FALTA

Pode-se criticar a relativa lentidão com que o governo Fernando Henrique Cardoso vem fazendo as reformas indispensáveis para modernizar o arcabouço institucional do país, mas é forçoso reconhecer que elas estão, quase todas, delineadas e obedecem ao que se convencionou chamar de receituário neoliberal, hoje hegemônico no mundo. Sob esse aspecto, portanto, a crítica só pode limitar-se a uma questão de ritmo.
Onde, no entanto, o governo mais falha é na implementação de suas políticas sociais. Da mesma forma como o consenso predominante aponta para reformas privatizantes, desburocratizadoras e liberalizantes, aponta também para outro tipo de exigência: políticas compensatórios para os setores sociais mais vulneráveis.
Essa regra integra, hoje, o discurso dos governantes e, em muitos casos, também a prática. Mas, no caso específico do Brasil, não basta.
O perfil de distribuição de renda no país, associado ao grande número de marginalizados, impõe a necessidade de políticas públicas que não sejam um mero colchão amortecedor das dificuldades eventualmente provocadas pela verdadeira revolução que, no mundo todo, se faz tanto no setor público como no privado.
Parece indispensável que o governo atue a fim de corrigir as distorções sociais que maculam a face do país. Não se trata de retórica esquerdista, como pode ter sido no passado.
Até as instituições financeiras internacionais têm, recentemente, insistido na tese de que a miséria e a má distribuição de renda são fatores inibidores do desenvolvimento e, portanto, conspiram contra a competitividade dos países em que elas são mais acentuadas.
Qualquer governo, portanto, teria por obrigação dar prioridade na sua agenda também ao aspecto social. No caso de um governo rotulado de social-democrata, como o é o de FHC, é mais do que uma obrigação. É um imperativo de coerência.

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