São Paulo, segunda-feira, 15 de abril de 1996
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OS MAUS PRIVATISTAS

Infelizmente já deixou de ser rara uma tendência indesejável no comportamento de alguns brasileiros, que consiste em tratar a esfera pública com as mesmas prerrogativas usufruídas na vida privada.
Com diferentes níveis de gravidade, assim age tanto o cidadão que estaciona em local proibido e se recusa a parar no sinal vermelho, quanto o mandatário que faz das verbas públicas um instrumento de barganha para interesses particulares.
O surpreendente fechamento do campus da USP em 94 aos milhares de visitantes dominicais parece estar associado a essa propensão "privatista", no pior sentido do termo.
Alegou-se que certa obra só poderia ser executada nos fins-de-semana, e que muitos usuários estariam criando problemas de segurança e atentando contra o patrimônio local.
Frente aos clamores dos que, em causa própria ou não, desejam preservar um espaço público para o lazer das classes de baixa renda, a reitoria da USP formou uma comissão que deverá formular uma proposta para a reabertura do campus aos domingos.
Embora tardia, a medida poderá reparar uma arbitrariedade tão "privatista" quanto a atitude de alguns vândalos e irresponsáveis.
De fato, se alguns usuários não zelaram pela integridade do espaço, é porque ousaram tratá-lo como se fosse o quintal de suas residências.
Esse erro, porém, poderia ser evitado por meio de uma fiscalização regular e eficiente. Só não justificaria outro erro, cometido então por alguns membros da comunidade universitária, que também ousaram (e muito) ao tratarem o campus como uma área privativa da população universitária, impedindo a presença dos que, com seus impostos, mantêm aquele espaço público.
Que ambos os lados da contenda compreendam, afinal, que não são usuários exclusivos nem daquele, nem de qualquer outro local destinado ao uso comum.

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