São Paulo, quarta-feira, 17 de abril de 1996
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Saúde teme fracasso de multivacinação

DANIELA PINHEIRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Ministério da Saúde teme o esvaziamento da próxima campanha de multivacinação, em junho, devido à má repercussão dos efeitos colaterais de vacinas contra a meningite aplicadas em Campinas e Hortolândia (SP), anteontem.
Na região de Campinas (99 km a noroeste de São Paulo), 7.538 pessoas apresentaram efeitos colaterais à vacina (22,1% do total de vacinados). Uma menina de 3 anos chegou a ter uma parada cardiorrespiratória.
A expectativa inicial do ministério era vacinar mais de 20 milhões de crianças contra a paralisia infantil e 5 milhões contra outras doenças (difteria, sarampo, tuberculose e coqueluche) em junho.
"Agora, estamos preocupados com a redução desse número. Os desavisados podem achar que o que aconteceu no interior de São Paulo -que ninguém sabe ainda o que foi- pode acontecer com eles", disse Cláudio do Amaral, diretor do Centro Nacional de Epidemiologia do ministério.
"As reações apresentadas pelas pessoas devem ser consideradas normais", disse Amaral.
Ontem, a vacinação prosseguiu nas cidades de Monte Mor (135 km a noroeste de São Paulo) e Valinhos (95 km a noroeste de São Paulo). Embora em Valinhos a campanha estivesse marcada para acabar anteontem.
Isso foi preciso porque muitos pais deixaram de vacinar seus filhos ao saber do problema em Campinas. Ontem, foram usadas vacinas francesas -as que geraram o problema eram nacionais.
Em Valinhos, a previsão era vacinar 40 mil pessoas, mas o último balanço divulgado ontem registrou 33.263.
Em Monte Mor, houve queda de 50% na procura por vacinas anteontem, segundo o Secretário de Saúde de Monte Mor, Latif Canfur.
Segundo a pediatra Ana Maria Escobar, do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas de São Paulo, a vacina é a "melhor arma" contra a meningite.
Embora a rede pública de São Paulo só vacine em locais em que há aumento no número de casos -só Campinas, Hortolândia, Valinhos e Monte Mor tinham vacinação em curso-, Ana Maria considera o uso da vacina sempre recomendável.
"O uso restrito da vacina é mais uma questão de falta de recursos do Estado do que de saúde pública. Em consultórios particulares, os pais sempre são aconselhados a vacinar contra a meningite."
A coordenadora do PNI (Programa Nacional de Imunização), Maria de Lourdes Maia, afirmou que o lote de vacinas usado em Campinas só foi distribuído na cidade.
"Não vamos inutilizá-lo até que fique provado o suposto comprometimento da vacina, após exames nos Estados Unidos", disse.

Colaboraram a Reportagem Local e a Folha Sudeste

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