São Paulo, quarta-feira, 17 de abril de 1996
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Educação: abaixo da média

ARNALDO NISKIER

Uma das grandes preocupações do Ministério da Educação e do Desporto é a elaboração de novos currículos para a educação básica.
Chamados impropriamente de "parâmetros curriculares", serão oferecidos aos sistemas de ensino como referencial ao aperfeiçoamento da qualidade.
De início deve-se referir que esse projeto tem tudo a ver com o baixo padrão dos nossos livros didáticos.
Uma babel com ensinamentos equivocados, tentando impor verdades dos grandes centros a todo o país. O balizamento dos novos currículos não pode resvalar para algo que se assemelhe aos famigerados livros únicos, característicos de tempos ditatoriais.
De toda forma, o MEC promoveu uma avaliação reunindo 124 mil alunos de 1º e 2º graus.
A precariedade é impressionante, não sobrando bons resultados para qualquer disciplina. Na matemática o percentual médio de acertos não alcançou 50%.
Em língua portuguesa (habilidade de leitura) chegou-se a 60%, com a revelação de uma tendência ao crescimento da média positiva, fato atribuído ao esforço dos professores de valorização do prazer da leitura, o que antes da Lei 5.692/71 não era estimulado.
Os testes, elaborados pelas fundações Cesgranrio e Carlos Chagas, foram aplicados em alunos da 4ª à 8ª série do 1º grau e 2ª e 3ª séries do 2º grau de 2.333 escolas públicas e 550 escolas privadas, abrangendo nove regiões metropolitanas e 639 municípios.
Para cada nível de ensino houve um adequado padrão de exigência cognitiva. O que se pode verificar é o fato de que a amostra é bastante significativa quando registra, por exemplo, no ensino médio, apenas 18% de acerto nos testes relativos aos conhecimentos matemáticos.
Como é que se vai enfrentar a sociedade da informação, com o pleno uso de computadores e multimídia, sem o mínimo de domínio da ciência do raciocínio?
Em conversa com a professora Edla Soares, secretária de educação do município do Recife (PE), confirmamos a necessidade de valorização do processo de municipalização, com a atribuição de recursos financeiros para que o sistema daí oriundo possa ser efetivado. De outra forma, é mais um exercício falacioso.
As causas que estão sendo levantadas não param aí. Alcançam a remuneração de professores, passam pela correta distribuição de bons livros didáticos e a merenda escolar, para desaguar no emprego de modernas tecnologias educacionais, de que a TV Escola passou a ser expressão. O diagnóstico é conhecido. Falta a correta e imediata ministração dos remédios.

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