São Paulo, quarta-feira, 17 de abril de 1996
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Muricy tem delicado problema no São Paulo

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Domingo à noite, no "Mesa Redonda" da Gazeta, tive um bate-boca com técnico Orlando, do Santos. Tudo por culpa do Flávio Prado, que mantivera com o treinador, logo após o clássico, uma breve discussão, pela Jovem Pan, sobre o estilo de jogo do Brasil tricampeão.
Flávio sustentava que jogamos em 70 no contragolpe; Orlando achou um absurdo.
Na verdade, o desencontro era mais semântico do que técnico ou histórico, posto que Orlando entendeu que a seleção brasileira jogou na retranca no México. Ora, naquele meio-campo, apenas Clodoaldo era um típico jogador de marcação; logo, não havia retranca. Isso é verdade. Como também é verdadeiro que jogamos no contragolpe.
Antes de mais nada, é preciso enquadrar aquele time no seu contexto e não compará-lo com o futebol que se pratica hoje, mais de um quarto de século depois, quando os sistemas defensivos estão de tal forma impregnados no cotidiano do futebol mundial que parecem já ter nascido com os bretões e os gaélicos.
Naquele tempo, o time de Zagallo era, sim, extremamente cauteloso em relação, por exemplo, à seleção de Saldanha, embora o elenco fosse praticamente o mesmo. E jogava num claro 4-4-2, embora três dos componentes do setor do meio-campo fossem extremamente habilidosos e pouco afeitos à marcação -Gérson, Rivelino e Pelé.
Até mesmo Clodoaldo era um volante mais hábil e solto do que a imensa maioria dos leões-de-chácara que povoam o setor nos dias de hoje.
Pra encerrar o papo, basta lembrar que a principal jogada de ataque do Brasil eram os lançamentos de Gérson para os disparos de Jairzinho. Se isso não é contragolpe, fecho o livro e vou pra casa.
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A propósito, lembro-me do velho mestre Brandão à porta do Pandoro, no auge do São Paulo do Cilinho, aquele de Muller, Silas, Careca, Pita e Sidney. Com um sorriso nos olhos marotos, destila o veneno na sua voz gutural: "Se sou eu, é retranca; se é o Cilinho, é contra-ataque".
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Por falar em São Paulo, Muricy está às voltas com um delicado problema para o jogo desta noite contra o Guarani: seu sonho é ver André no meio-campo, mas encontra resistência por parte do jogador, que teme perder a lateral da seleção se for deslocado.
A angústia maior do técnico é que, finalmente, com Serginho na lateral-esquerda, ele tem a chance de fazer essa mudança que certamente haverá de conferir um toque de classe ao operoso mas opaco meio-campo tricolor.
Mais que isso: pelo esquema planejado -três zagueiros e dois volantes de pegada, como Lima e Belletti, André teria toda liberdade para se aproximar de Almir e Valdir com a frequência suficiente para explorar seu chute forte de esquerda.
Uma sugestão, pois, a Muricy: ligue para Zagallo e ouça a resposta que o técnico me deu numa ilustre mesa do restaurante Rodeio, há uma semana: tal mudança não será motivo de dispensa. Ao contrário. Afinal, uma convocação de apenas 18 jogadores não descarta curingas.

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