São Paulo, domingo, 21 de abril de 1996
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Gays despertam paixões nas mulheres

PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL

Fazia muito tempo que a estudante de direito Daniela Costa, 26, não se identificava tanto com um personagem como aconteceu com "Carrington", a mulher que se apaixona por um homossexual no filme do inglês Christopher Hampton: "Fiquei passada", diz.
O primeiro grande amor de Daniela, como o de Carrington, foi um homossexual. Era o irmão de uma amiga, que ela conhecia de ouvir falar e por quem se apaixonou à primeira vista quando conheceu pessoalmente. "Não parei mais de pensar nele."
Ela tinha 16 anos e só foi saber que ele era gay um tempo depois, por terceiros, quando já tinha saído algumas vezes com o rapaz. "Continuei apaixonada", lembra.
Os dois namoraram três anos. "Não era um namoro convencional", ela diz. "Depois que ele confirmou que era mesmo homossexual, eu passei a frequentar até boates gays. Participava das paqueras dele e comecei a tentar entender aquele mundo."
Ela diz que não tinha ciúme de gays, só de mulheres. "Sabia que ele não ia deixar de gostar dos meninos, e, na competição, eu perderia. Mas com as mulheres, nunca admiti", conta.
Daniela lembra que, durante o tempo do namoro, ela resistia a outras cantadas. "Eu até podia sair para jantar com caras que gostavam só de mulheres, mas ninguém me parecia interessante como ele. Na cama, era gentil, delicado, o máximo", afirma.
Ela conta que eles deixaram de dormir juntos, mas a relação continua forte. "Por mim, eu me casaria e viveria o resto da vida com ele. É o pai que eu imaginei para os meus filhos. Só que ele tem outras expectativas", diz.
A carioca Marta, 36, passou por cima dessas diferenças e se casou há sete anos com um homem que ela sabia que era gay. "Todo mundo me avisou, mas eu estava muito apaixonada. Casei de véu, grinalda e festa para 400 pessoas", diz.
Marta foi morar fora do país com o marido, que estava estudando, e tudo correu bem nos primeiros meses de casamento.
"A coisa só degringolou porque não segurei o ciúme. Meu ex-marido é muito sedutor e, com o tempo, entrei em paranóia. Inventava romance até onde não havia."
O casamento acabou em três anos e o marido de Marta foi a última de uma série de paixões gays dela. "Eu era especialista."
Ela saiu da experiência escaldada. "Nunca mais me relacionei com homossexuais. Me casei logo em seguida com um cara mais velho, que me amparou na depressão, e agora namoro um por quem me apaixonei", afirma.
Hoje, ela já tem condições de sair com o ex-marido gay e o namorado dele. "Demorou uns cinco anos até eu conseguir me livrar do sentimento de posse. Agora, ele é um amigo de todas as horas."
O "sentimento de posse" estava fora de moda nos anos 70, quando a atriz Cintia Grillo, 39, se casou "de papel passado" e teve um filho com o namorado de um amigo.
"Éramos todos atores do grupo Dzi Croquetes e vivíamos em uma casa grande, no Rio. Eu via meninos transando com meninos, depois com meninas, que por sua vez transavam com meninas. Era tudo muito natural", lembra.
Por isso, o ex-namorado de seu marido teve de engolir a perda em seco. "Mas hoje, quando me encontra, ele brinca e diz: Se ferrou, bem feito!"
O casamento de Cíntia durou apenas dois anos e meio, porque o marido dela "era muito livre e vivia sumindo". "Ia embora de casa e voltava 15 dias depois. Eu pensei que ele estivesse afim de assumir uma família, mas me enganei."

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