São Paulo, domingo, 21 de abril de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Despreparo afasta Hortência dos Jogos

ADRIANA OTTONI
DA 'FT'

Um mês após ter voltado a treinar, a ala Hortência mantém o suspense sobre sua participação nos Jogos Olímpicos de Atlanta, que acontecem em julho.
Mas a "rainha do basquete", como é conhecida, já dá algumas pistas sobre a decisão que pretende anunciar no próximo mês.
Hortência ainda está longe de sua melhor forma física e tem evitado treinar com bola.
No único dia em que arriscou arremessos, sofreu uma tendinite no tornozelo, o que a deixou ainda mais receosa para voltar a defender a seleção brasileira.
"Não quero decepcionar ninguém. Mais do que meu público, não quero me decepcionar", afirmou a jogadora, em Americana (133 km a noroeste de São Paulo).
Na cidade, Hortência treina e também trabalha como dirigente da equipe do Seara.
No ano passado, após anunciar que estava grávida de seu primeiro filho, Hortência declarou que encerrava sua carreira.
Em 13 de março último, porém, a armadora Paula, parceira de seleção e tradicional rival nas disputas regionais, que também havia desistido de defender o Brasil, voltou atrás e foi incorporada à delegação olímpica.
O anúncio aumentou a pressão do público e da mídia sobre Hortência, que acabou voltando aos treinamentos.
Ela preferiu, no entanto, não revelar suas intenções. E, agora, promete desfazer o mistério nas próximas semanas.
Responsabilidade
Hortência parece dimensionar bem a responsabilidade que terá se voltar a jogar.
E, por isso mesmo, afirmou estar consciente da dificuldade que é recuperar a antiga forma física, em apenas três meses.
"É difícil voltar depois de 14 meses parada, como eu fiquei. A dificuldade é ainda maior porque eu me cobro demais", disse.
Voltar a jogar apenas pela possibilidade de poder competir sua segunda Olimpíada -em Barcelona, em 92, alcançou a sétima colocação- não está em seus planos.
E, mais vez, ressaltou que só disputará a competição nos Estados Unidos se considerar que tem condições de ajudar, de fato, a equipe brasileira.
"Participar a troco de quê? Só para dizer que fui?", perguntou a jogadora, que se considera totalmente realizada no basquete.
O título mundial, conquistado em 94 na Austrália, e do Pan-Americano de Cuba, em 91, foram os pontos altos de sua carreira.
Além disso, é considerada uma das melhores jogadoras da história do basquete feminino, mesmo com a falta de estatísticas oficiais.
"Bom é você parar no auge e não quando as pessoas dizem que você já está em final de carreira. Isso seria terrível para mim."
Racional
Apesar de considerar positivo o desejo do público de a querer de volta às quadras, Hortência afirmou que isso não vai pesar em sua decisão.
"Eu não deixo meu coração tomar conta da minha consciência. Geralmente, eu sou assim. Me levo pela razão."
A jogadora disse saber que ninguém espera uma resposta negativa de sua parte sobre a ida para a Atlanta.
"No fundo, talvez seja melhor eu decepcionar na resposta. E não dentro da quadra. Seria menos doloroso desse jeito."

Texto Anterior: Times tentam evitar 'decisão corintiana'
Próximo Texto: Jogadora corre contra o tempo
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.