São Paulo, domingo, 21 de abril de 1996
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Remo adota 'vôlei' em busca de medalha

SÉRGIO KRASELIS
DA REPORTAGEM LOCAL

O remo brasileiro está adotando a preparação física da seleção de vôlei masculina para tentar atingir bons resultados na Olimpíada de Atlanta, que começa em julho próximo.
O desafio de deixar os remadores que vão competir no Pré-Olímpico do Rio de Janeiro, em junho, em condições físicas semelhantes às de Marcelo Negrão, Giovane e companhia, está a cargo do professor Júlio Noronha.
Julinho, como é conhecido o preparador físico da equipe campeã olímpica em Barcelona-92, estabeleceu um programa para os remadores brasileiros, que inclui, além de refeições balanceadas, treinos diários de até cinco horas.
O esforço de Julinho contrasta com a situação do órgão que dirige o remo no país. Sem recursos e equipamentos, atletas e técnicos optaram pelo voluntarismo.
É o caso de Julinho. Desde janeiro último, ele decidiu, como ex-remador, trabalhar como colaborador na combalida Confederação Brasileira de Remo (CBR).
"Encontrei um quadro sem diretriz de trabalho, ou, em poucas palavras, sem pé nem cabeça", diz Julinho.
Rendimento máximo
Na visão do preparador, sua experiência no vôlei começa a surtir efeito no esporte náutico.
À exemplo dos atletas do vôlei, os remadores são submetidos a uma série de exercícios físicos que, obedecendo a uma escala progressiva, procuram deixá-los perto do máximo do rendimento físico na época da Olimpíada.
"Adotamos o sistema de ergometria simulada. Ou seja, colocamos o atleta em um ergômetro (aparelho com que se mede o trabalho produzido por um homem ou animal) para saber como está sua evolução física", conta Julinho.
No total, já foram feitas três avaliações por ergometria simulada com atletas de cinco Estados: RS, SC, SP, RJ e ES.
Em função dos testes de ergometria, os 26 melhores vão representar o país no Pré-Olímpico.
Fundo do poço
Para Julinho, a situação atual do remo brasileiro é crítica. "Estamos perto do fundo do poço. Não temos equipamentos, mas contamos com atletas que podem surpreender em Atlanta", diz.
A opinião do preparador físico é compartilhada por quatro remadores que vão tentar uma vaga na Olimpíada de Atlanta.
Sem apoio de patrocinadores, Marcelo Giraldo, 22, Acácio Roberto Lemos, 25, Paulo Haipek, 21, e José Roberto Nascimento Jr., 24, reconhecem que o remo foi "apagado" da memória do público.
"Talvez por falha dos dirigentes, que não souberam divulgá-lo", arrisca Lemos, que, ao lado de Giraldo, compete na categoria dois sem peso leve (até 72 kg).
Seu colega Nascimento Jr., que compete com Haipek na categoria dois sem peso pesado (acima de 72 kg), com uma dose de nostalgia, acrescenta:
"E pensar que o remo já foi um dos esportes mais praticados no Brasil."
Na visão dos remadores, vai ser uma "pedreira" competir com países da América de Sul, Central e do Caribe no Pré-Olímpico.
"Nossos principais adversários são os argentinos e cubanos", diz Nascimento Jr.
Segundo ele, os remadores brasileiros têm um árduo caminho para chegar a Atlanta. "Pelo menos o nosso rendimento físico está melhor, o que nos deixa um pouco mais aliviados", diz Lemos.

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