São Paulo, domingo, 21 de abril de 1996
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A nova aliança trará o futuro

MASSIMO D'ALEMA

A Itália vive uma época de confusão e incertezas. Prevalece a convicção de que foi interrompido o processo de renovação política e institucional iniciado em 1992, tão necessário para tirar este país da crise profunda e que todos nós observávamos alternadamente com esperança e ceticismo.
A origem desta grave situação está no fracasso do governo da coalizão direitista do Pólo da Liberdade.
A direita italiana é forte e capaz de expressar os sentimentos de protesto trazidos à tona pela crise da democracia parlamentar e dos partidos políticos, mas não está em condições de colocar um programa e uma classe dirigente a serviço do país.
Durante o período de seu governo (de maio a dezembro de 1994), o Pólo da Liberdade evidenciou uma visão proprietária das instituições, ao lado de ridículas exibições de força e erros retumbantes. Por estes motivos -e devido à ação eficiente da oposição- sua experiência no governo foi curta.
A nova classe dirigente está nascendo no âmbito da centro-esquerda, do encontro entre as correntes moderadas -católicas e leigas- e uma esquerda moderada reunida na coalizão que porta o emblema da oliveira.
Esse encontro abre a possibilidade da ascensão ao governo de um novo bloco social que, pela primeira vez na história italiana, compreende as forças de trabalho, o setor empresarial e o setor cultural. Só esta nova aliança poderá modernizar a nação e integrá-la à Europa.
Nos últimos anos a centro-esquerda e o movimento trabalhista vêm dando mostras de rigor e realismo, contribuindo para o saneamento financeiro do país. Essa atitude responsável tem dado frutos importantes, como a inversão da tendência que provocou o acúmulo de uma dívida pública avassaladora e a recuperação econômica já iniciada.
Mas os problemas de fundo continuam sem solução. A injustiça social aumenta, o imenso exército de desempregados não diminui -sobretudo no sul do país e entre os jovens-, os salários reais estão caindo e, de maneira geral, as expectativas de melhora da qualidade de vida continuam insatisfeitas.
O Bloco da Oliveira quer conquistar o governo nas eleições de 21 de abril para resolver esses e outros problemas urgentes.
Não é realista buscar mais empregos nas empresas já existentes, pois elas estão incorporando cada vez mais os sistemas informatizados, que requerem menos pessoal. Por isso uma parte de nosso programa diz respeito à criação de novas empresas e à "invenção" de novas atividades.
O governo da Oliveira promoverá a inovação e a pequena e média empresa, precisamente os setores de alta intensidade em matéria de empregos.
A política industrial deve concentrar os recursos no financiamento de alguns programas de inovação tecnológica e na sustentação da capacidade de desenvolvimento autônomo das pequenas empresas.
A Itália precisa aplicar um vigoroso programa de desenvolvimento da pesquisa científica e tecnológica, e nessa esfera se inscreve a política orientada a favorecer a criação de inovadoras empresas de pequeno porte.
Isso é indispensável não apenas para criar empregos, mas também porque a Itália corre o risco de ficar atrás dos países industrializados. De fato, a produção de alta tecnologia representa uma porcentagem muito reduzida de sua produção total.
Para que nossa economia seja competitiva e todas essas metas possam ser alcançadas, é necessário proceder a uma reforma profunda de nosso sistema financeiro e do mercado de capitais.
A chave dessa transformação está na construção de um estado "leve" porém não indiferente, ao lado da privatização dos bancos e das empresas públicas.
Mas nossa proposta é evitar que os monopólios públicos sejam substituídos por monopólios privados.
Para a centro-esquerda, "leve", mas não indiferente, é um Estado que renuncia à gestão direta das empresas e assume uma função reguladora. Esse conceito é complementar ao de um Estado Social moderno.
Neste contexto as privatizações constituem a grande ocasião para distanciar os partidos políticos da condução das empresas, criar novos mercados, injetar uma forte dose de competitividade nas indústrias e nos bancos e expandir o mercado privado de capitais.

Tradução de Clara Allain

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