São Paulo, domingo, 21 de abril de 1996
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Sucessores de Zapata ganham a "guerra do golfe" no México

The Independent
de Londres

PHIL DAVISON
EM MIAMI

Velhos camponeses indígenas no Estado mexicano de Morelos acreditam que o herói revolucionário nacional Emiliano Zapata não morreu no dia 10 de abril de 1919. Embora o Exército mexicano tivesse exposto seu corpo em uma praça da cidade após matá-lo em uma emboscada, os camponeses supersticiosos acreditam que Zapata fugiu para as montanhas e está vivo.
Por isso os mais velhos acreditaram realmente que Zapata estava presente na quarta-feira, 10 de abril, quando a polícia atacou camponeses de Morelos -um morto e 18 feridos. Mas o incidente resultou em uma vitória dos camponeses contra uma grande empresa -da qual Zapata teria se orgulhado.
Os camponeses eram de Tepoztlan, 56 km ao sul da Cidade do México e a pouca distância do lugar onde Zapata nasceu. Alguns eram seus descendentes diretos, outros filhos dos homens que combateram a seu lado durante a revolução de 1910-17.
Eles se dirigiam em um comboio de ônibus para a cidade de Cuernavaca, onde o presidente mexicano, Ernesto Zedillo, faria um discurso.
Mas não estavam indo para ouvir o presidente. Iam para protestar contra os planos de construção de um campo de golfe e complexo turístico nas redondezas de Tepoztlan, uma das mais pitorescas cidadezinhas do interior mexicano, alegando que o complexo estragaria a paisagem, colocaria a fauna em risco, desperdiçaria os escassos recursos hídricos locais e profanaria túmulos pré-colombianos.
Desde setembro passado, quando começaram as obras de terraplenagem no local do campo de golfe os camponeses ocuparam a cidade, de 13 mil habitantes, erguendo barricadas de arame farpado e ocupando a sede da prefeitura. A imprensa local batizou o impasse de "a Guerra do Golfe".
Na quarta-feira retrasada, 60 policiais foram enviados à cidade de Tlaltizapan para impedir os manifestantes de chegar até o presidente Zedillo. Quando a notícia do confronto (que não foi o primeiro desse tipo) chegou aos jornais, a polícia alegou que estava desarmada e que os disparos só poderiam ter sido feitos pelos camponeses.
Mas um vídeo amador confirmou que os policiais estavam armados e abriram fogo, mostrando que Zedillo ainda tem um longo caminho a percorrer para poder cumprir sua promessa de defender os direitos históricos dos mexicanos. Seis policiais foram acusados de assassinato e 54 outros de abuso de autoridade.
Um cidadão de Tepoztlan de 62 anos, chamado Marcos Olmedo, morreu no tiroteio. No final da semana os responsáveis pelo projeto do campo de golfe cederam à pressão dos habitantes locais e desistiram do projeto, dizendo que os investidores haviam perdido confiança devido à violência.
"Mas a terra é legalmente nossa e não vamos abrir mão dela", disseram responsáveis pelo projeto.

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