São Paulo, quinta-feira, 25 de abril de 1996
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Aval do Senado não resolve caso Banespa

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

Mesmo que o Senado aprove o empréstimo de R$ 7,5 bilhões para São Paulo, o caso Banespa estará longe de uma solução.
As posições agora estão invertidas. O governador de São Paulo, Mário Covas, que lutou para recuperar o controle do Banespa, está preocupado com o preço que terá de pagar por isso.
O Banco Central, que forçava a privatização do Banespa, agora quer manter o acordo pelo qual São Paulo entrega propriedades e assume pesadas prestações para quitar sua dívida com o banco.
Ao anunciar que estava desistindo desse acordo, pela demora na sua implementação, Covas iniciou uma manobra com dois possíveis objetivos: ou deixar o Banespa de vez nas mãos do governo federal, ou melhorar os termos do acordo para assumir seu controle.
Covas baseou sua desistência em dois fatos: a demora do Senado em votar o empréstimo e o crescimento da dívida, quase R$ 3 bilhões a mais, pela acumulação de juros desde dezembro último.
A rápida reação do Senado e do governo FHC, criando condições para a votação e eliminando o acréscimo da dívida, devolveu a bola para Covas.
O governador ficou sob a mesma pressão política que havia aplicado, ao anunciar a desistência do acordo. Mas a verdade é que o negócio ainda enfrenta pelo menos outros dois obstáculos.
E a Infraero, estatal federal, resiste à idéia de comprar, por R$ 1,2 bilhão, os aeroportos paulistas que ela mesmo construiu e já opera.
Negociadores paulistas já vinham comentando que nenhum desses negócios foi "posto por escrito". A compra da Fepasa deveria ter sido fechada em 29 de março. Não foi.
Por trás dessa história, está o fato de que o governo paulista percebeu tardiamente o peso do acordo. Além da entrega de propriedades, o governo assumiria uma prestação mensal de R$ 65 milhões.
Isso equivale a 5% da arrecadação mensal do ICMS, a principal receita do Estado. Em um ano, Covas gastaria R$ 780 milhões nessa prestação, quase a metade do que vai investir em Saúde.
E isso para assumir um banco que, conforme estudos concluídos em março, precisa reduzir pela metade suas despesas administrativas e com pessoal.
Pelos mesmos motivos, o governo federal prefere que o Banespa fique com São Paulo. Se o acordo morrer, todo o trabalho sujo de saneamento fica para o BC.
Com uma agravante: sem acordo, sem banco, o governo paulista não vai pagar mais nada.

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