São Paulo, quinta-feira, 25 de abril de 1996
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Mudança afeta cineastas de Hong Kong

LEON CAKOFF
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM HONG KONG

A passagem de Hong Kong para a China Comunista no dia 1º de julho de 1997 poderá ser catastrófica para o futuro dos cineastas da ilha de governo britânico.
Também se teme pelo futuro do cinema independente da China, que nos últimos anos encontrou refúgio em Hong Kong para escapar da censura e da burocracia do partido comunista chinês.
Nessa contagem regressiva de pouco mais de um ano, muitos cineastas buscam assegurar dupla nacionalidade e transferir a sede das suas produtoras para outros países.
John Woo, depois de 19 anos de carreira em Hong Kong, já foi adotado por Hollywood. Seu primeiro filme americano, "Broken Arrow" ("A Última Ameaça") estréia nesta quinta em Hong Kong sem entusiasmar a crítica local.
Junto com essa estréia vem a notícia de uma nova produção americana para Woo, com o mesmo John Travolta no elenco e um cachê de 21 milhões de dólares.
Outro que caiu nas graças do cinema americano é o comediante Jackie Chan. Mas, como garante Wong Kar-wai, tanto Woo como Chang fazem um estilo de cinema de ação que pode ser ambientado em qualquer país do mundo. Não é o caso de Kar-wai.
Enquanto espera o que vai acontecer, Kar-wai dará impulso à sua carreira internacional com um filme que poderá ter locações em São Paulo e Buenos Aires.
Ele segue um consenso entre os cineastas de uma nova geração de Hong Kong de que deve se trabalhar o máximo até a transição da ilha que voltará a pertencer à China continental.
Embora os chineses tenham acertado para a transição um prazo de 50 anos de não-interferência nos negócios de Hong Kong, a última semana foi marcada por protestos, depois das declarações de oficiais do partido comunista chinês que vieram a Hong Kong participar de comitês de transição.
A embaixada britânica tenta administrar o tumulto dos pedidos de vistos permanentes dos cidadãos de Hong Kong, de fato súditos britânicos, com repetidos anúncios na imprensa.
O cinema gay é outro que deverá desaparecer de Hong Kong com a administração chinesa que censura o tema em seu cinema há muitas décadas. Há pelo menos oito filmes gays em produção no momento em Hong Kong.
E toda esta produção já está vendida para a grande maioria do mercado internacional, Brasil incluído. Este segundo boom do cinema made in Hong Kong tem um futuro incerto. O primeiro boom, provocado há 24 anos pelo fenômeno Bruce Lee, vai render lucros na era da realidade virtual.
Todas as produtoras que trabalharam no passado fazendo filmes de artes marciais e que tenham em seus arquivos trechos de filmes com atuações de Bruce Lee estão renegociando o material para um projeto de Hollywood orçado em US$ 480 milhões.
As compilações dos movimentos de Lee estão alimentando um scanner e um computador que irá aprender todos os maneirismos e movimentos ágeis executados por Bruce Lee, depois reproduzi-los em terceira dimensão.
Os fãs ainda inconformados com a morte do ídolo estarão com a razão: Bruce Lee parece que não morreu mesmo. Falta saber como renascerá o cinema de Hong Kong depois de 1997.

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