São Paulo, quinta-feira, 25 de abril de 1996
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Brasil e Itália podem trocar políticos tagarelas

DAVID DREW ZINGG
EM FLORENÇA

Não sei o que você acha dos italianos, Joãozinho, mas politicamente falando eles têm muito a ensinar a nossos líderes aí em Brasília.
Fizeram mais uma eleição aqui esta semana e pela milionésima vez conseguiram chegar a um acordo em relação a ... praticamente nada.
Para o mundo externo a coisa parece bem engraçada. Não passa de mais uma instância da Itália fazendo o papel de palhaça da política mundial. A Itália, diz todo mundo, é o bobo da corte européia.
Pode ser. Quem sabe?
A verdade é que a Itália, assim como o Brasil, tem outro lado, menos conhecido do grande público.
Enquanto o mundo ri da incompetência treinada dos políticos italianos, o resto do país trabalha duro. Desde a última guerra este país conseguiu erguer-se dos escombros e sobreviver a um número fenomenal de governos em estilo pastelão.
Mais de 50 (isso mesmo, cinquenta) governos chegaram e se foram, como atos passageiros de comédia em algum palco vistoso e estridente, enquanto os atores de verdade -o povo italiano- dão continuidade a sua vida, sem a ajuda ou o estorvo dos políticos.
Após as eleições do último fim-de-semana, a Itália (o país) vai dar de ombros e voltar ao trabalho, enquanto os políticos voltam a engajar-se em suas brincadeiras inúteis em Roma.
O paralelo entre Itália e Brasil é tão grande que o sentimento que se tem é que poderíamos simplesmente trocar todos os políticos faladores de Roma por seus colegas de Brasília e praticamente ninguém em qualquer um dos países notaria a diferença.
Pelo menos Fernando Henrique Cardoso, que fala todas as línguas conhecidas do homem ocidental, se daria muito bem com tal troca. Ele poderia continuar a fazer pouco no melhor estilo italiano.
Mamma mia, socorro!
Mas existe uma nova moda italiana que bem poderia ser adotada em Brasília.
Trata-se da nova moda de colocar cada vez mais dos criminosos de alta classe responsáveis pela onda infindável de escândalos italianos no xilindró.
Antigamente as cadeias italianas, exatamente como acontece em Sambalândia hoje, eram povoadas por ladrõezinhos de meia tigela, assassinos perigosos e um ou outro repórter curioso demais.
Mas isso mudou. Hoje é comum e corriqueiro ver nas cadeias italianas renomados homens de negócios, gerentes de empresas públicas e integrantes importantes do establishment político nacional.
Alguns anos atrás um conhecido jornalista italiano divulgou documentos confidenciais vinculando políticos italianos a chefões da Máfia. Em troca do trabalho que teve, ganhou uma estadia gratuita de sete dias numa solitária de uma cadeia.
Quando saiu de lá, o jornalista publicou um livrinho clássico entitulado "Vandemecum per Láspirante Detento" -"Guia para o Candidato a Detento".
Pedro Paulo Sena Madureira é um conhecido editor de livros faça-você-mesmo em São Paulo. Quando eu voltar, acho que tenho uma ótima idéia para ajudar a editora de Pedro Paulo a ganhar uma bolada.
Poderíamos lançar uma versão brasileira do livro, que eu teria prazer em ilustrar.
Com todos os ladrões e subornadores endinheirados, famosos e muito culpados que deveriam estar enfeitando as cadeias brasileiras, acredito realmente que o livro em pouco tempo chegaria ao topo da lista de presentes de Natal de todo político.
Mamma Mia 2
Aqui na Itália o culto ao "Mammimiso", ou amor pela mãe, está em baixa, infelizmente. O país atingiu índice zero de crescimento populacional há quase dez anos e hoje, ao lado da Espanha, produz menos crianças do que qualquer outro país da Europa ocidental.
Se essa tendência não se reverter, a população italiana terá diminuído em 300 mil pessoas dentro de alguns anos.
A família, símbolo mais poderoso da cultura italiana, está gravemente ameaçada.
Tio Dave se lembra da época em que um italiano, quando se casava, trazia a esposa para viver com sua família. Não demorava muito para a casa ficar razoavelmente superlotada. Conheci um garoto italiano que nunca chegou a ver o chão até os 14 anos de idade.

Tradução de Clara Allain

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