São Paulo, sábado, 27 de abril de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Governo descentraliza reforma agrária

RAQUEL ULHÔA
MARTA SALOMON

RAQUEL ULHÔA; MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Estados e municípios passarão a ter participação nos processos de assentamentos de sem-terra

O governo federal decidiu que Estados e municípios vão participar, junto com a União, do processo de reforma agrária.
Os municípios vão criar conselhos encarregados de cadastrar os sem-terra, e os Estados farão o assentamento com recursos repassados pela União.
A tarefa de desapropriar terras e indenizar os fazendeiros será mantida prioritariamente na mão do governo federal.
"Nós vamos avançar na municipalização e na estadualização, e isso será definido junto com o ato da nomeação do Jungmann (Raul Jungmann, novo ministro da Reforma Agrária) na próxima semana", disse ontem à Folha o chefe da Casa Civil, Clóvis Carvalho.
Municipalização
A municipalização da reforma agrária seguirá os moldes já adotados pelos ministérios da Educação e da Saúde. As prefeituras são obrigadas a constituir conselhos para controlar verbas e até definir em que serão feitos os investimentos.
Carvalho também confirmou a criação do Conselho Nacional de Reforma Agrária. "É para pensar a reforma junto com o governo e criar condições para acelerar o processo", disse.
O presidente Fernando Henrique Cardoso tem encontro hoje às 11h, no Palácio da Alvorada, para discutir Reforma Agrária.
Participarão da reunião o novo ministro Jungmann, o chefe da Casa Militar, Alberto Cardoso, o ministro Nelson Jobim (Justiça) e o secretário-geral da Presidência, Eduardo Jorge.
Outra preocupação do governo é conseguir o quanto antes o maior volume de terras.
Ontem, em conversa com o líder do PMDB no Senado, Jader Barbalho (PA), FHC disse, segundo o senador, que a tese da reforma agrária é socialista, mas o Brasil é um país capitalista, e o problema tem que ser enfrentado com um programa econômico.
Preço baixo
O governo quer aproveitar o mercado, atualmente favorável à compra, segundo Barbalho, porque os preços das propriedades rurais no país estão baixos.
Uma das idéias de FHC para aumentar o volume de terras para distribuição a colonos é utilizar as propriedades rurais que estão hipotecadas com o Banco do Brasil para pagamento de dívidas.
FHC reuniu ontem o ministro da Fazenda, Pedro Malan, o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Pedro Parente, e o secretário de Política Econômica, Mendonça de Barros, para discutir medidas efetivas para a realização da reforma agrária.
"Se o governo quiser agilizar a reforma agrária, tem de descentralizar as ações de assentamento, que incluem demarcações e distribuições de lotes, eletrificação rural, construção de estradas vicinais, seleção dos colonos etc. Isso é impossível fazer de Brasília", defendeu Barbalho.
Com o líder do PMDB, FHC discutiu também uma forma de apressar as votações no Congresso -o partido também apóia a utilização de MP (medida provisória).
"Mesmo fazendo restrição à edição de MP, o PMDB acha que nesse caso trata-se de um instrumento adequado, por considerar o assunto urgente e relevante", afirmou.
Segundo ele, a idéia é fazer com que os senadores governistas assumam os projetos do Planalto, e, assim, a tramitação comece pelo Senado. Na avaliação do Executivo, a Câmara é muito sensível às pressões da forte bancada ruralista.

Texto Anterior: PTB tenta nome de consenso para a Agricultura
Próximo Texto: Perguntas sem respostas
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.