São Paulo, sábado, 27 de abril de 1996
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Ágio do paralelo já chega a quase 7%

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A diferença entre o dólar no mercado paralelo e o dólar comercial (usado nas exportações e importações) fechou ontem a 6,84%.
Esse é o maior ágio registrado desde o dia 17 de setembro de 1993, quando foi de 7%.
O "black" atingiu esse ágio depois de fechar, ontem, com alta de 1,92%. Os negócios se encerraram com a moeda norte-americana sendo comprada a R$ 1,04 e vendida a R$ 1,06.
O ágio teria sido ligeiramente superior se o Banco Central não tivesse feito correção, de 0,1%, na minibanda cambial (a faixa de preço em que o dólar pode oscilar).
A partir de agora, o comercial pode flutuar entre R$ 0,992 e R$ 0,997. O comercial foi vendido ontem a R$ 0,9921. Sem a mexida na minibanda, o ágio seria de 6,96%.
Pequena intervenção
Caso o mercado não se estabilize nos próximos dias, o BC poderá induzir a queda do ágio. Uma possibilidade é o BC vender barato dólares aos bancos que trabalham com dólar-turismo. Assim, esses bancos poderão vender dólares aos turistas por um valor bem abaixo do paralelo, diminuindo a demanda pelo "black".
Impacto do controle
A alta das cotações do "black" é resultado direto de medidas adotadas pelo BC para tentar dar maior transparência e controle às operações de entrada e saídas de dólares realizadas pelas contas de não-residentes. Essas contas são conhecidas como CC-5.
As novas regras, que vigoram desde segunda-feira, tornam obrigatória a apresentação de documentação e registro no BC de toda a movimentação acima de US$ 10 mil. Ou seja, agora, o dinheiro que transita pelas CC-5 tem de ter justificativa legal. Anteriormente, essas contas serviam de elo entre o mercado legal e o paralelo. Era por intermédio dessas contas que os doleiros operavam.
Desde segunda, o elo foi quebrado. O "black" acumulou alta na semana de 6,53%. Segundo os analistas ouvidos pela Folha, não foi a demanda maior por dólares que provocou a alta, mas o fato de os doleiros não poderem contar mais com o ingresso de recursos pelas CC-5 para atender ao mercado. É um problema de oferta, portanto.
Existe um risco, no entanto, nesse processo de separação total entre o mercado legal e o ilegal, dizem os analistas. Se o ágio continuar alto, o ágio pode voltar a atrair operações para o paralelo, fazendo ressurgir um mercado que já era considerado morto.
Importância relativa
Segundo os analistas, o mercado paralelo atual não tem mais a importância do que existia até a criação do dólar-turismo. O BC foi incorporando ao mercado legal operações do paralelo.
Maior do que o atual, o "black" servia como um importante termômetro sobre as expectativas da economia. Atualmente, esse mercado não tem mais essa função.

Colaborou a Sucursal de Brasília

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