São Paulo, quinta-feira, 2 de maio de 1996
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Reforma acirra confrontos no governo

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
DA REPORTAGEM LOCAL

Até agora, a reforma ministerial produziu mais confusão no governo do que resultados positivos. As disputas se multiplicam na equipe ministerial e entre os partidos governistas no Congresso.
Além das divergências cada vez mais explícitas na área econômica, a briga por espaço cresce no Ministério de Fernando Henrique.
A nomeação de Luiz Carlos Santos para a Coordenação de Assuntos Políticos trouxe mais um contendor para o ringue onde já estavam Sérgio Motta (Comunicações) e Eduardo Jorge (Secretaria Geral da Presidência).
No PSDB, deputados dizem não ter sido acaso o fato de o novo ministro peemedebista não ter sido convidado para a reunião que decidiu o aumento do salário mínimo e a cobrança de contribuição previdenciária de aposentados.
A reunião em si foi marcada por divergências. Tantas que, após quase seis horas de discussão, os ministros não queriam divulgar para a imprensa o conteúdo da medida provisória. Depois, nenhum deles queria dar entrevista.
PSDB perde
Sem ter participado das causas, sobrou para Santos cuidar das consequências da medida provisória (MP) e apagar o incêndio no Congresso: os parlamentares rejeitaram o exato conteúdo da nova MP há pouco mais de um mês.
Maior perdedor da reforma ministerial, o PSDB corre atrás do prejuízo. O líder do partido na Câmara, José Aníbal (SP), passou segunda e terça no Palácio do Planalto tentando recuperar parte do espaço perdido para PMDB e PFL.
Durante a entrega das comendas da Ordem do Rio Branco, no Itamaraty, o deputado tucano foi visto cobrando veementemente o ministro Motta pelo vazamento da notícia da reforma ministerial.
Aníbal tem motivos para estar nervoso: tem sido, aos olhos da bancada tucana, muito mais líder de governo do que do partido.
Quando a reforma ministerial estava em gestação, o líder foi fomentado pelo Planalto a se opor ao nome de Santos para o ministério. Quando a pressão de PMDB e PFL aumentou, o Planalto acabou aceitando o nome do peemedebista e deixou o líder tucano vendido.
Murro na mesa
Para piorar, o PFL levou a liderança do governo na Câmara, com Benito Gama (BA). Ao saber de tudo, Aníbal socou uma mesa.
Para tentar contornar os distúrbios dentro da equipe, Fernando Henrique fez várias rodadas de conversas com amigos e ministros no Palácio do Alvorada ao longo do último sábado. Notou-se a ausência de Sérgio Motta.
O primeiro-amigo vem se desgastando desde o episódio do "saco preto". Seu prestígio piorou na semana passada, quando vingou a versão de que ele tinha sido o responsável pelo vazamento que precipitou a reforma ministerial.
Desde o início do governo, ele e Eduardo Jorge disputam o comando das articulações políticas (atender pedidos dos parlamentares).
O embate entre os dois abriu o espaço agora ocupado por Santos. Ao perceber que isso era irreversível, Motta tentou diminuir o prejuízo e circunscrever o peemedebista a coordenador de Assuntos Legislativos. Não conseguiu.
Na área econômica não é diferente. Em recente entrevista, o ministro José Serra atribuiu o déficit público aos juros altos. Gustavo Franco, diretor do Banco Central, respondeu debitando os juros altos na conta do déficit público.
No meio do fogo cruzado, Pedro Malan (Fazenda) demorou quase um mês para obter a assinatura de Serra no voto do Conselho Monetário Nacional que autoriza a fusão dos bancos Econômico e Excel.

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