São Paulo, quinta-feira, 2 de maio de 1996
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Famílias vão pedir abertura de arquivos

WILSON TOSTA
DA SUCURSAL DO RIO

Parentes de militantes mortos pelo Exército durante a repressão à guerrilha do Araguaia vão pedir ao presidente Fernando Henrique Cardoso, na próxima semana, a abertura dos arquivos das Forças Armadas sobre o episódio.
Segundo a presidente do grupo Tortura Nunca Mais, Cecília Coimbra, a decisão foi tomada a partir da divulgação, pelo jornal "O Globo", de fotos e documentos do arquivo de um militar com informações sobre militantes até então dados como desaparecidos.
Cecília disse que o grupo Tortura Nunca Mais sabe que, além dos arquivos pessoais, há bancos de dados oficiais sobre o caso.
Ela disse que os familiares reivindicarão ainda a retificação dos atestados de óbito dos guerrilheiros e a localização de seus restos mortais: "Sabemos que todos os presos eram fotografados. Queremos as fotos e as informações".
Cecília considerou "asquerosos" os atestados de óbito já emitidos em nome dos desaparecidos. "Eles não dão informações sobre o local, a data e as circunstâncias das mortes", afirmou.
Atestados
A lei 9.140, de dezembro de 1995, estabelece que, uma vez reconhecido pela Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos que o militante desaparecido foi morto pela repressão, qualquer cartório brasileiro pode emitir o atestado.
A lei define que as famílias têm direito a uma indenização (R$ 100 mil a R$ 150 mil), calculada a partir da expectativa de vida do militante, a contar da data da morte.
Em Porto Alegre, a representante dos familiares dos desaparecidos na comissão, Suzana Lisboa, disse que, com as novas informações, algo terá de ser feito para garantir os direitos de algumas famílias de desaparecidos no Araguaia, cujos nomes só surgiram na documentação divulgada.
O prazo estabelecido pela lei 9.140 para que as famílias registrem seus pedidos junto à comissão se esgota no dia 14.
As informações do arquivo indicam que pelo menos 19 moradores do Araguaia, sem ligações anteriores com o PC do B, foram mortos pelos militares que participaram da repressão à guerrilha. Alguns deles não constam de nenhuma lista oficial de desaparecidos.

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