São Paulo, quinta-feira, 2 de maio de 1996
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Woo serve cru e cozido

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

"O Alvo" (Telecine, 21h) pode ser visto como mais um filme de violência incontida jogado no mercado. Fala-se, ali, de uma gangue que sequestra veteranos de guerra, sem família e sem mais nada, e os transforma em alvo de ricaços.
É, obviamente, sórdido. Mas não é cínico. Por cândido que seja, o filme exprime um ponto de vista moral, não sugere que sair por aí matando pessoas é a coisa mais natural do mundo, como Quentin Tarantino, como o cinema tarantínico.
E isso é algo face a que os espectadores de cinema terão de tomar posição uma hora: em um ou dois filmes, é um olhar novo, um novo respiro que se oferece. Se vira tendência, a coisa muda de figura.
O cinema de John Woo, o diretor de "O Alvo", é com frequência violento, mas evita o cinismo. Formalmente, ele tem momentos de realismo cru -como os independentes-, mas esse realismo parece dever mais à Hollywood clássica, dos anos 40 e 50, do que a essa crueza meio sem objeto de tantos filmes atuais, crueza que é um fim em si mesma (e, por isso mesmo, perde o caráter documental para ser estilismo).
E John Woo sabe servir o cozido tanto quanto oferece o cru. A última parte de "O Alvo" é um balé magnífico, que explora a capacidade coreográfica de Jean-Claude Van Damme e faz cinema popular do mais alto nível: um espetáculo que, embora acessível a qualquer espectador, tem o sentido da beleza e preocupa-se em buscá-la. Tudo isso faz de "O Alvo" um espetáculo invulgar.
(IA)

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