São Paulo, quinta-feira, 2 de maio de 1996
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CIRANDA PROMÍSCUA

A expressão "ciranda financeira" tornou-se um emblema da promiscuidade entre governo e sistema financeiro ao longo dos anos 70 e 80.
Para o Planalto, a inflação era uma forma de rolar suas dívidas e déficits, corroer salários do funcionalismo e, na prática, governar sem Orçamento.
Para os bancos, a mesma inflação propiciava lucros pela diferença entre os juros pagos pelo próprio governo, de um lado, e a remuneração muitas vezes nula de recursos depositados pelos correntistas.
Com inflação baixa, assiste-se agora à reedição da mesma promiscuidade, sob outras formas. O governo, ainda com déficits crônicos em suas contas, introduz toda sorte de artificialismos no sistema financeiro e paga juros altíssimos para se financiar. E os bancos que, privados ou públicos, também enfrentem dificuldades para se adaptar à inflação baixa contam com as até agora obscuras facilidades do Proer, do Banco do Brasil ou da Caixa Econômica Federal.
A intenção manifesta do governo de beneficiar os bancos públicos com o Proer em nada contribui para tornar mais transparentes ou saudáveis as relações entre o que deveria ser uma "autoridade monetária" e o sistema que supostamente deveria estar sob a sua supervisão.
Tudo indica entretanto que esse ardiloso anúncio do Proer para bancos públicos, além de atender a pressões políticas, é sobretudo uma resposta da União ao impasse do Banespa. O governo Covas percebeu que o banco estadual é uma bomba-relógio e ameaçou jogá-la no colo do governo federal. Este, antes radical em favor da privatização como solução do caso, apressou-se em dizer que logo sugeriria condições mais amenas para o governo estadual.
Elas enfim começam a emergir, sob a forma arcaica do comprometimento de mais recursos públicos no "saneamento" que apenas premia a incompetência e a má-fé. Sobrevive portanto ilesa a ciranda promíscua entre BC e sistema financeiro, público e privado. Até quando?

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