São Paulo, domingo, 5 de maio de 1996
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Falta naturalidade a 'Não Fuja da Raia'

ANA FRANCISCO PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

No programa "Não Fuja da Raia", exibido pela Rede Globo, Claudia Raia procura reafirmar seu desejo de ser polivalente, ou seja, poder atuar como atriz, cantora, dançarina, comediante. Vale o esforço, considerando a falta deste tipo de artista no Brasil, onde não existem escolas que ofereçam formação abrangente, como nos Estados Unidos.
Tentando se adiantar às críticas, Raia inclui um esquete que ironiza a mania de Broadway de artistas como ela, que copiam, imitam e chegam perto. Nem tão perto, infelizmente, porque pelo menos neste programa, ela se multiplica em personagens sem obter resultados marcantes.
Sabe-se que Raia tem formação em balé. Poderia explorar melhor os dotes de dançarina, mas no programa não há quadros que sustentem esta possibilidade. As coreografias são arremedos, não se desenvolvem de maneira a confluir para um efeito total, capaz de encher os olhos do espectador.
Não aproveitando a habilidade de dançar, que parece ser a melhor qualidade de Raia depois de atuar, sobra pouco quando ela tenta ser comediante ou cantora. Sem carisma ou naturalidade para ser engraçada, Raia tampouco se dá bem cantando. Seu timbre desigual mereceria, talvez, maior treinamento vocal.
No início do programa, as trucagens visuais típicas da TV Globo introduzem Raia em cenas de chanchadas da Atlântida, de musicais hollywoodianos, de paisagens cariocas, tentando fazer da atriz, por vezes, uma reencarnação de Carmem Miranda.
Os apelos visuais param por aí, pois as cenas musicais que Raia apresenta em seguida sequer mereceram enquadramentos criativos de câmera. Em sua proposta de entreter ou recriar o encantamento dos espetáculos da Broadway (ou expressões similares), a atriz surge, em "Não Fuja da Raia", como uma aprendiz em busca de resultados.
Quem sabe, valeria se inspirar ou mesmo estudar o trabalho de artistas como Chita Rivera, que no cinema estrelou o antológico "West Side Story", coreografado pelo genial Jerome Robbins, e recentemente, já sessentona, brilhou na versão musical de "O Beijo da Mulher Aranha".
Sem a cara bonita de Raia, Rivera sempre se submeteu ao árduo dia-a-dia dos bailarinos para harmonizar teatro e dança. Não é o caso de Raia que, por enquanto, é apenas uma vedete.

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